Ir e vir é uma constante em nossas vidas. Mas estamos cercados de pessoas que agem de formas infinitas para tentar nos demonstrar uma insustentável leveza do ser.
Sim, é isso. Nós, que estamos envoltos em espiritualidade, qualidade de vida, desenvolvimento humano e autoconhecimento, somos soterrados por informações que tentam nos manter em uma leveza inalcançável, em uma situação que torna a mesma leveza quase tóxica.
Veja: estamos no mundo. O mundo é material. Nós estamos presos a essas coisas, independentemente da situação esotérica ou mística que você siga. Você pode ser vegano, só usar roupas de algodão, ser espiritualista e tomar Ayahuasca. Ainda assim, você precisa se relacionar com pessoas que não são.
Ainda assim, você precisa de dinheiro para comprar suas roupas ou sua comida vegana. Ainda assim, você precisa dirigir até o local onde irá se consagrar com a “medicina da floresta”. Não importa o quanto tentemos, ainda estamos presos à materialidade.
Os perigos da leveza
Claro que não estou, com isso, defendendo que você se torne um capitalista inescrupuloso. O que estou tentando dizer é que “nem tanto lá, nem tanto cá” seria uma receita melhor. Os perigos da leveza é nos tornar tão leves, que isso acabe por fazer-nos voar e nos perdermos no céu sem uma bússola.
Acho que, desta vez, devo me explicar melhor: não estamos todos nos mesmos lugares nem temos todos as mesmas perspectivas. O que você precisa perseguir para ser feliz é diferente do meu caminho, entende?
Hoje em dia, meu caminho de felicidade é ser o Mago que sou, ter minha moto para poder viajar, poder dar as coisas que minha filha precisa e ser um bom filho para meus pais.
Para você, o caminho da felicidade pode ser morar em uma fazendo no interior do estado. Para outro, o caminho da felicidade pode ser abrir um restaurante ou, ainda, viver sem precisar de dinheiro em uma comunidade naturalista. Não importa, de qualquer forma, temos que compreender que o caminho de um não corresponde ao caminho do outro.
A espiritualidade pode ser tóxica
A falta de compreensão desta máxima, nos dias de hoje, causa o fenômeno da espiritualidade tóxica – algo estudado por especialistas há um bom tempo. Em geral, as pessoas que se consideram espiritualizadas são as que apresentam maior comportamento narcisista.
O narcisismo também, em geral, está conectado a relações tóxicas, já que o narcisista tenta impor-se ao outro frequentemente; seja encontrando ações para menosprezar o outro, seja encontrando ações para impor sempre sua vontade ao outro.
Este comportamento ligado a um estilo de vida “espiritual”, ligado a situação da transformação do homem em produto, como ocorre hoje, acaba criando uma espiritualidade tóxica.
Não importa fazer, importa mostrar que faz
A toxicidade desta questão está em, basicamente, a máxima “não importa fazer, importa mostrar o que faz”. Isso porque cria em você a responsabilidade de estar 100% conectado a uma determinada causa.
Você não pode gostar somente de acender um incenso, tem que ser especialista em incenso e falar sobre isso, mostrar no Instagram. O incenso para de ter um caráter de aromatizar o ambiente e passa a ser um peso para quem acende. Compreende?
Depois tem a evolução disso: como você pode acender um incenso e não colocar um copo de água junto? Como você pode colocar o copo de água e não colocar um cristal? Como você pode gostar de incenso e comer carne?
Claro que não estou dizendo que você tem que necessariamente comer carne, ou não comer. O que estou dizendo é que você precisa, não… você DEVE aprender uma lição muito importante no caminho da “evolução espiritual”.
Você deve ser a versão que mais gosta de si
Ninguém no mundo consegue falar o que é melhor para você. Ninguém no mundo consegue falar sobre quem você deve ouvir ou não, o que comer ou não. Ninguém no mundo pode ter uma autonomia na sua vida maior do que a que você mesmo tem.
Pois você é o único que calça seus calçados, é o único que sente as dores que você sente e que tem o coração que você tem. Não se deixe levar nunca por ninguém, tenha a coragem de ser nada mais além daquilo que você é.
Não tenha vergonha de se cansar, de enjoar, de desistir de vez em quando. Não sinta vergonha de comemorar as pequenas coisas da vida, de ficar feliz porque está sentindo o cheiro da chuva ou porque comprou um par de sandálias novas.
Não tenha vergonha de deixar de comer carne só porque você quer saber como é e depois, se cansar, voltar a comer. Não tenha vergonha de se sentir no corpo errado e decidir mudar. Não se importe com rótulos ou com o que pensarão de você.
Você é um deus. Seu universo passou a existir depois de você. Ele só existe porque você existe. E, quando ele deixar de existir, possivelmente você ainda continuará existindo. Então, faça deste universo “você” o melhor lugar para viver.
Por Nino Denani
Pós-graduado em neuropsicologia, Mago Hermetista, Grão Mestre da Ordem do Grande Oriente Místico e host do canal do Nino Denani no YouTube.