Entrar no mundo dos vinhos é embarcar em uma jornada de descobertas sensoriais e culturais. É um longo caminho repleto de novos conhecimentos, desde a influência da rolha no sabor do líquido até a razão pela qual diferentes vinhos são servidos em taças distintas. As curiosidades são um ponto de partida para aprender a apreciar, não apenas o sabor, mas também a complexidade e a história por trás de cada garrafa.
O primeiro conceito que precisa ser desmistificado é a necessidade de gastar muito para apreciar um bom vinho. Há uma infinidade de opções acessíveis que oferecem excelente sabor e custo-benefício. “Experimentar diferentes rótulos e descobrir seus próprios gostos é parte da diversão, independentemente do orçamento”, explica Ahmad Yassin, da Vestcasa, rede varejista especializada em itens para a casa, alimentos e bebidas.
Antes de escolher o seu próximo rótulo, confira as dicas do João Carlos, especialista da Casas Patronales, que produz vinhos, para você ampliar seus horizontes enológicos.
1. A rolha não é apenas um detalhe
Enquanto muitos associam a rolha de cortiça à tradição ou ao prestígio, ela desempenha uma função crucial na preservação do vinho. Ela é responsável pela vedação hermética da garrafa, impedindo a entrada de ar. O contato com o oxigênio pode oxidar a bebida, resultando em sabores indesejados e deterioração da qualidade.
Para fazer jus à filosofia de que quanto mais velho o vinho for, melhor o sabor, é preciso uma rolha de qualidade para manter as condições ideais de envelhecimento, que permitam a liberação controlada de oxigênio no líquido. Além de evitar a entrada de ar, o aparato também ajuda a manter a frescura do vinho, evitando a evaporação excessiva de compostos voláteis que contribuem para o aroma e o sabor característicos.
2. Taças vão além da função estética
Para cada perfil de vinho, uma taça — não por questão de bom gosto, mas de funcionalidade. O formato do recipiente é projetado para permitir que a bebida respire e desenvolva seus aromas, influenciando na sua concentração e direcionando-os para o nariz do degustador, proporcionando uma experiência sensorial mais rica.
O tamanho da taça afeta a quantidade de vinho que pode ser derramada e a relação entre a superfície exposta ao ar e o volume de líquido. As maiores são ideais para os mais encorpados, como os tintos, permitindo uma maior interação com o ar, enquanto as menores são mais adequadas para os mais delicados, como o branco. Depois do formato, o material também influencia. A preferência é por cristal fino, pois não interfere no sabor e permite que o vinho seja apreciado visualmente com maior clareza.
O formato e a espessura da borda da taça podem influenciar a maneira como a bebida atinge o paladar. As bordas finas e lisas permitem um fluxo suave do vinho para a boca, enquanto as bordas grossas podem interferir na experiência de degustação.
3. O papel do decanter na mesa
O decanter é mais do que um simples recipiente para verter o vinho. A transferência cuidadosa da bebida para um decantador permite que ela respire e se abra completamente. Especialmente para vinhos mais jovens e encorpados, o processo pode suavizar os taninos, substâncias presentes nas sementes que possuem sabor amargo, e intensificar os aromas, proporcionando uma experiência sensorial completa.
Em vinhos mais velhos, é comum que sedimentos se formem no fundo da garrafa. Ao usar um decanter, é possível separar esses sedimentos do líquido, garantindo uma degustação mais agradável. A temperatura também pode se beneficiar com a decantação. Se a garrafa estiver armazenada em uma temperatura mais baixa do que a ideal para consumo, o decanter pode ajudar a trazer a bebida para a temperatura correta.
4. As uvas também são diversas
As uvas são um dos principais fatores que influenciam o sabor, o aroma e os aspectos de um vinho. Existem milhares de variedades da fruta ao redor do mundo, cada uma com suas próprias características. Geralmente são classificadas em duas categorias principais: tintas e brancas.
Uvas tintas, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, são usadas para produzir vinhos tintos, enquanto uvas brancas, como Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling, são usadas para os brancos. Você já deve ter lido “terroir” nas garrafas. O termo se refere ao ambiente específico onde elas são cultivadas, incluindo solo, clima, topografia e práticas agrícolas.
Cada variedade de uva tem um perfil de sabor único. Por exemplo, uvas Cabernet Sauvignon tendem a produzir vinhos encorpados, com notas de frutas escuras e taninos firmes, enquanto Chardonnay podem resultar em bebidas mais cremosas, com sabores de maçã, abacaxi e carvalho, se envelhecidos em barris de carvalho.
Muitos vinhos são feitos a partir de uma mistura de uvas, o que pode adicionar complexidade e equilíbrio. Por exemplo, um vinho Bordeaux típico pode ser uma mistura de Cabernet Sauvignon, Merlot e outras uvas.
5. O ano também faz a diferença
Ao escolher um vinho, a safra pode fazer toda a diferença. Cada ano de produção traz consigo características únicas, influenciadas por fatores como clima, colheita e técnicas de vinificação, procedimento que transforma uva em vinho. Embora nem sempre seja o único fator determinante da qualidade da bebida, conhecer a safra pode ajudar os iniciantes a fazer escolhas mais informadas e a descobrir verdadeiras joias enológicas.
Um ano com clima mais quente e seco pode resultar em uvas mais maduras e concentradas, produzindo vinhos mais encorpados e intensos. Por outro lado, um ano mais frio e úmido pode levar a uvas menos maduras e bebidas mais leves e frescas.
Por Juliana Possas