A cada dia, milhões de animais vagam pelas ruas do Brasil privados das condições básicas de sobrevivência, como moradia, água e alimentação. Segundo dados de 2022 da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 30 milhões de animais, entre cães e gatos, enfrentam o abandono no país.
A Dra. Aline Ambrogi, médica-veterinária e professora do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), do Grupo UniEduK, destaca que esse cenário é reflexo da falta de comprometimento dos tutores com o bem-estar de seus animais de estimação.
“O motivo principal do abandono é a irresponsabilidade na hora de comprar ou adotar o pet, e não se preparar financeira e estruturalmente para isso. Afinal, os animais vivem em média 12 anos e, durante esse tempo, tudo pode acontecer”, afirma.
Além disso, conforme a profissional, separações, mudanças no trabalho, problemas de saúde com o animal são alguns imprevistos que podem contribuir para o abandono. “Apesar disso, a posse responsável significa que o animal será de sua responsabilidade por muitos anos, independentemente dos acontecimentos inesperados”, ressalta a Dra. Aline Ambrogi.
Desafios do abandono animal no Brasil
Uma pesquisa divulgada em 2023, pelo Instituto Pet Brasil, revelou que o Brasil possui cerca de 185 mil animais abandonados ou resgatados e que estão sob tutela de organizações não governamentais (ONGs) e grupos protetores. Desse número, 60% são resgatados após maus-tratos e 40% frutos de abandonos.
Entre os principais motivos do abandono, de acordo com uma pesquisa publicada pela Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, estão os problemas comportamentais dos cães (46,8%); mudanças na disponibilidade de espaço ou nas regras de conduta social do espaço ocupado pelo ser humano (29,1%); o estilo de vida do proprietário do cão (25,4%) e a diferença entre a expectativa ao adquirir o cão e a realidade de cuidados necessários (14,9%).
O abandono dos animais é crime no Brasil, de acordo com as leis federais 9.605/98 (art. 32), conhecida como Lei de Crimes Ambientais; e 13.426/2017, popularmente chamada de Lei Sansão. Há ainda um acordo universal com 5 liberdades que garantem bem-estar ao animal e devem ser aplicadas a todas as espécies. São elas: livre de sede, fome e má nutrição; livre de desconforto; livre de dor e doenças; livre de medo e estresse; além de liberdade de expressarem seus comportamentos.
Problemas sanitários do abandono de animais
O acúmulo de animais de rua é cada vez mais comum e pode trazer malefícios não somente ao pet, mas também prejuízos às questões sanitárias. É o que alerta o médico-veterinário e supervisor da Clínica de Pequenos Animais do Hospital Veterinário do Centro Universitário Max Planck (UniMAX Indaiatuba), do Grupo UniEduk, Dr. Igor Moretto Soffo.
“Animais abandonados tornam-se errantes e podem ser vetores de doenças tanto para humanos quanto para outros bichos. Estes podem ficar doentes e encarar sofrimento e dor, podendo ainda atacar outros animais. Há ainda o risco de causarem acidentes automobilísticos e prejuízos materiais”, salienta.
Combatendo o abandono de animais nas ruas
Como medidas para reduzir o abandono de animais no Brasil, os médicos-veterinários da UniFAJ e UniMAX destacam a importância da execução de algumas medidas. “A questão mais importante é a campanha de castração para beneficiar tutores de baixa renda. Quanto maior for o número de animais castrados, menor será a reprodução exponencial deles durante os anos. Além disso, as campanhas devem levar a informação sobre posse responsável, para que as pessoas se conscientizem de que um animal viverá por muitos anos e o tutor é responsável por seu bem-estar”, afirma o médico-veterinário.
Ademais, conforme a Dra. Aline Ambrogi, adotar ao invés de comprar também é uma forma de diminuir o número de animais abandonados. “Punições efetivas, criminal e administrativa, focadas em repreensão aos maus tratos, ajudaria na investigação e caracterização do crime, permitindo assim a entrada de valores que podem ser investidos na causa”, complementa o Dr. Igor Moretto Soffo.
Dicas para uma adoção responsável
A seguir, confira algumas dicas para garantir uma adoção responsável e evitar o abandono dos animais de estimação.
1. Tempo disponível para o pet
O animal é também um membro da família e, diariamente, precisa de atenção do tutor. Por isso, é importante, antes de adotar um animal de estimação, identificar se você tem tempo disponível para o bichinho.
2. Espaço disponível
É necessário ter um espaço físico adequado para que o pet tenha os cuidados mínimos de higiene e para gastar suas energias.
3. Ambiente familiar
Promova uma integração do animal com as pessoas/animais da casa, para que ele sinta cada vez mais parte da família.
4. Conheça a raça
É preciso conhecer a fundo o temperamento do animal, pois cada raça tem a sua peculiaridade.
5. Expectativa e realidade
É preciso aceitar que a expectativa criada nem sempre acontece na prática. Por isso, tenha paciência com o pet.
6. Saúde é investimento
Assim como os humanos, cães e gatos necessitam de acompanhamento médico – se possível a cada seis meses.
7. Vida saudável
É fundamental conhecer o tempo de vida do animal e garantir uma convivência saudável durante todas as fases de sua vida.
Por Jean Martins