Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida dos homens ao nascer era de 73,3 anos em 2020, e, para as mulheres, de 80,3 anos. Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde, em 2014, do total de pessoas entre 20 e 59 anos que morreram no país, 68% eram do sexo masculino. Entre as causas dessas mortes, estão problemas de saúde como doenças do aparelho circulatório e digestivo e tumores.
Esses dados reforçam que as mulheres geralmente cuidam mais da saúde. “Em função de hábitos e até de uma cultura de cuidados que lhe é imposta, a mulher faz a revisão de saúde quase que anualmente, sobretudo durante a adolescência, na época do pré-natal etc.”, explica o Dr. Clineu Almada, geriatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Cuidados na infância e adolescência
As preocupações com a vida sexual e a prevenção do câncer de colo de útero, que são temas difundidos há bastante tempo, são outros fatores que contribuem para isso. Sem contar que, no caso das mulheres, o pediatra é substituído pelo ginecologista muitas vezes já a partir da primeira menstruação.
“Os meninos vão ao especialista infantil e, em seguida, fica um vácuo que deveria ser preenchido pelo hebiatra (especialista em adolescente) ou clínico geral. Assim, eles receberiam as mesmas orientações que as meninas em relação às mudanças no corpo e hormonais”, afirma o médico.
Necessidade de divulgar informações
O Dr. Clineu Almada acredita que o caminho para a mudança está em divulgar melhor as necessidades e os benefícios do acompanhamento médico periódico também para os homens. Ainda falta informação, assim como direcionamento ao especialista correto.
“Houve casos em que a mãe me pediu indicação de um urologista para o filho por conta de uma dificuldade sexual com a namorada. Mas não era caso de urologista. Muitas vezes, trata-se de um problema afetivo, mas alguém precisa identificar isso e encaminhar corretamente”, sinaliza o geriatra.
Influência da questão cultural
A baixa frequência masculina nos consultórios também é uma questão cultural. “Eles são criados para dar conta de situações e ir ao médico significa que outra pessoa tem que solucionar a situação por eles. É como ter que passar o bastão, e os homens não estão habituados a isso”, destaca o Dr. Clineu Almada.
Prevenção é sempre importante
Para o especialista, o modelo que se cristalizou em nossa sociedade está mais baseado em doença, e não em prevenção. “Você só vai ao médico quando tem um problema. Mas, sob a óptica da geriatria, antes da terceira idade, você desenvolve outras fases da vida. Então, boa parte das enfermidades da velhice foi acumulada durante esse período e o paciente não deu a devida atenção. Desde vícios de postura, que podem resultar em dores na coluna lá na frente, até esses mitos, preconceitos e dificuldades em relacionamento”, alerta o geriatra.
Mudança nas estatísticas
Sobre as estatísticas e as diferenças na expectativa de vida entre os sexos, o Dr. Clineu Almada considera alguns adendos que podem alterá-las no futuro. “Os homens que compõem esses dados ainda são aqueles que se lançaram mais cedo ao mercado de trabalho que as mulheres, fumaram mais do que elas e desenvolveram mais hábitos nocivos à vida. Mas isso está mudando. Hoje, já percebemos um estreitamento nessa diferença de estilo de vida entre os sexos. Há uma expectativa grande de igualarmos esses dados, mas ainda assim o fato de a mulher procurar o médico com mais frequência irá pesar”, conclui o especialista.