A vitamina D é um nutriente essencial para o corpo humano, desempenhando um papel crucial na manutenção da saúde óssea e no funcionamento adequado do sistema imunológico. Sintetizada principalmente pela exposição da pele à luz solar, ela desempenha um papel vital na absorção de cálcio e fósforo, fundamentais para a formação e fortalecimento dos ossos.
Mesmo sendo popular, a vitamina D ainda desperta incertezas quanto a aspectos como modo de uso, dosagem, benefícios, contraindicações e outros fatores. Por isso, Paula Molari Abdo, farmacêutica pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora técnica da Formularium, esclarece algumas dúvidas sobre esse importante nutriente. Confira!
1. O que é a vitamina D?
A chamada vitamina D, na realidade, é um hormônio. Foi chamada desta forma em alusão à matéria-prima que precisamos manter no organismo para produzi-la: o dehidrocolesterol. Suas funções são tão importantes e complexas que se denominou sistema endocrinológico vitamina D.
Ela consiste em duas formas: ergocalciferol (vitamina D2) e colecalciferol (vitamina D3). A vitamina D2 está presente em plantas e alguns tipos de peixe. A vitamina D3 é produzida quando a pele é exposta à radiação ultravioleta B (UVB). “Somente 20% das nossas necessidades vêm da dieta. Os outros 80% são sintetizados pela pele por meio da exposição solar”, diz Paula Molari.
2. O que determina a síntese da vitamina D?
A síntese da vitamina depende de uma série de fatores como pigmentação da pele, localização geográfica, estação do ano, vestuário, idade, uso de protetor solar e condições meteorológicas locais. Por vezes, os níveis de vitamina D, por exemplo, são consideravelmente mais baixos em pessoas negras quando comparado com pessoas brancas.
Nas latitudes nórdicas, estes níveis reduzem cerca de 20% desde o final do verão até meados do inverno. No entanto, 30 minutos diários de exposição ao sol durante o verão são suficientes, evitando o sol entre 10 e 16 horas, quando a radiação é mais intensa.
3. Em quais casos há indicação do suplemento?
Antes de suplementar esse nutriente é fundamental consultar um médico. No entanto, existem alguns grupos que são mais suscetíveis à deficiência de vitamina D e, por isso, necessitam de suplementação, assim como os idosos, já que o envelhecimento é um fator de risco, pois a atrofia da pele (própria da idade avançada) reduz a capacidade de síntese do nutriente no organismo. Além disso, a vitamina é fundamental para a fixação do cálcio nos ossos, sendo recomendada para prevenir o risco de quedas e fraturas.
Indivíduos portadores de obesidade também apresentam mais risco de deficiência, já que as concentrações dos metabólitos ativos da vitamina D são inversamente proporcionais ao índice de massa corporal. Ou seja, indivíduos com alto peso corpóreo possivelmente acumulam essa vitamina, que é lipossolúvel, no tecido adiposo.
Outros grupos que também devem fazer a suplementação são: gestantes, lactantes, crianças, indivíduos de fototipo elevado (já que a melanina limita a penetração dos raios solares e reduz a produção de colecalciferol) e pessoas com uma dieta alimentar pouco variada.
Além destes, pacientes com quadro de raquitismo ou osteomalácia; portadores de osteoporose; pacientes com síndromes de má absorção (fibrose cística, doença inflamatória intestinal, doença de Crohn, cirurgia bariátrica, entre outras); pacientes com insuficiência renal ou hepática; com hiperparatiroidismo; indivíduos que tomam medicações que interfiram no metabolismo da vitamina D; e pacientes de doenças granulomatosas e linfomas.
4. Como saber se estou com níveis baixos da vitamina D?
Para saber se temos deficiência, é necessário realizar um exame de laboratório, solicitado por um médico, que mede o nível da vitamina D ativa no organismo. Os valores considerados normais, levando-se em consideração o equilíbrio do cálcio no sangue e a saúde óssea, variam de 20 a 32 ng/mL.
Entretanto, segundo Paula Molari, especialistas concordam que, para correção de algumas doenças causadas pela sua deficiência, redução do risco de quedas com fraturas e a máxima absorção do cálcio, a melhor dose é de 30 ng/mL.
5. Como o déficit de vitamina D compromete o organismo?
A vitamina D é única entre as vitaminas, pois funciona como um hormônio. Além dos seus efeitos no metabolismo do fósforo e do cálcio, evidências recentes relacionam sua deficiência com o risco de desenvolvimento de outras patologias não ósseas.
Algumas dessas doenças incluem: transtorno depressivo, declínio cognitivo, enxaqueca, esclerose múltipla, diabetes tipo 2, doença hepática e cirrose, tireoidite de Hashimoto, sarcopenia, osteoporose e osteopenia, artrite reumatoide, infecções recorrentes do trato urinário (ITUS), asma e rinite alérgica, pré-eclâmpsia, atrofia vaginal induzida por alguns quimioterápicos no câncer de mama, dermatite atópica e psoríase.
6. Ela reduz o risco de eventos cardiovasculares, como o infarto e o derrame?
A vitamina D apresenta um papel importante no sistema cardiovascular por meio de vários mecanismos, como a inibição da migração e a proliferação das células para o músculo liso vascular, evitando a calcificação vascular. Inibe também a inflamação interna na parede dos vasos, o que pode levar a lesões vasculares.
“Além disso, regula o movimento cardíaco. Assim, evita a formação de trombos e diminui a pressão arterial. Todos esses fatores contribuem para se evitar o infarto e o derrame”, pontua Paula Molari.
7. Superdosagem da vitamina D pode causar riscos à saúde? Quais?
A toxicidade da vitamina D, muitas vezes considerada rara, pode ser fatal se não for identificada prontamente. A ingestão excessiva da vitamina pode causar náuseas, vômitos, alterações sensoriais, constipação, hipercalcemia, pancreatite, lesão renal aguda, entre outras condições.
8. É possível garantir os níveis de vitamina D por meio da alimentação?
A melhor fonte é a síntese da vitamina D pela pele quando exposta ao sol. No entanto, é possível garantir através da alimentação. “No entanto, poucos alimentos da nossa rotina alimentar contêm na sua composição esta vitamina. Portanto, passam despercebidos”.
A vitamina D está presente em peixes e vegetais mais ricos em gordura como salmão, atum, sardinha, óleo de fígado de bacalhau e abacate, também na gema do ovo e oleaginosas. Outra grande fonte são os cogumelos.
9. A deficiência de vitamina D na infância pode estar relacionada a transtornos mentais na vida adulta?
Um estudo do The Journal of Nutrition avaliou que a baixa síntese ou a carência da vitamina D em crianças pode ter relação a problemas de comportamento na adolescência e, posteriormente, em depressão e esquizofrenia em adultos.
“A descoberta de metabólitos da vitamina D no líquido cefalorraquidiano em adultos saudáveis sugere que ela pode desempenhar um papel no desenvolvimento do cérebro e uma ação funcional no sistema nervoso”, complementa a especialista.
“Vale frisar que não se recomenda a suplementação de vitamina D além das necessidades diárias para a prevenção de doenças ou mesmo para aumentar a qualidade de vida. Portanto, consulte um médico para avaliar se você realmente precisa do suplemento e qual a dosagem que atenderá suas necessidades”, finaliza Paula Molari Abdo.
Por Flávia Ghiurghi