Desde a infância até a idade adulta, os sonhos são uma experiência constante na vida do ser humano. Mas, apesar de serem tão comuns, ainda há muito mistério e especulação sobre como ocorrem. Eles são como um portal para o mundo do inconsciente, em que emoções, desejos, medos e memórias se manifestam de forma inexplicável, rompendo a barreira entre o real e o imaginável.
Quando começamos a sonhar?
O psicólogo e professor de psicanálise Ronaldo Coelho, da capital paulista, explica que o aparecimento dos sonhos tem relação com a formação da consciência. Segundo ele, os sonhos iniciam na mesma fase que a consciência.
“É quando começamos a ter pensamentos próprios dentro da nossa cabeça e a ter lembranças de algo que aconteceu durante o dia, à noite ou antes de acordar. Esse processo de maturação acontece entre os 3 e 4 anos de idade”, explica.
Este é o momento em que as crianças lembram dos sonhos; passam a ter o registro de que algo ocorreu durante a noite e contam aos pais ou às pessoas próximas. São os adultos, contudo, que compreendem que a criança está falando de um sonho e nomeiam dessa forma para ela, emprestando-lhe esse sentido.
Por que não lembramos dos sonhos?
Freud, o pai da psicanálise, já dizia no início do século passado, e hoje isso foi comprovado pela neurociência, que sonhamos todas as noites, mas nem sempre conseguimos lembrar. Para tanto, é necessário que um segundo processo se dê.
“Esse processo, que Freud nomeou de formação ou elaboração secundária do sonho, é o que possibilita lembrar do sonho e conseguir contá-lo a alguém. O sonho não existe por completo antes desse processo”, explica Ronaldo Coelho.
Pesadelos x sonhos
Todos os sonhos são formados por uma junção do que aconteceu no dia, das coisas significativas que estão acontecendo na vida da pessoa, e ocorrem como realização de desejos ou elaboração de conflitos. “Se a pessoa está passando por uma situação difícil em sua vida, é possível que tenha um sonho bom, em que seus problemas não existem e todas as coisas estão resolvidas, de modo a realizar esse desejo“, afirma o professor de psicanálise.
“Do mesmo modo, pode-se produzir um pesadelo que passe a ter mais a característica de elaboração de conflitos importantes, um modo de lidar com a angústia que vai por outro caminho, o de fazer com que a pessoa se prepare para o que está por vir, por exemplo. Cada uma das formas de sonhar diz muito da organização psíquica e do universo mental de cada paciente”. Por esse motivo, o psicanalista esclarece que o sonho é, ainda hoje, muito importante para o processo psicanalítico.
Por Mayra Barreto Cinel