Quem planeja viajar para a Argentina, a princípio, pode até pensar em visitar a capital Buenos Aires, mas o país hermano oferece muito mais do que essas opções para os turistas. Ao noroeste do seu território, por exemplo, a cerca de 1400 quilômetros da capital, se localiza a província de Salta, que se destaca pelas paisagens montanhosas em meio a um cenário surpreendente e repleto de natureza.
A província fica próxima à fronteira com o Chile e possui cidades que se localizam a uma altitude elevada, o que resulta em exuberantes paisagens repletas de quebradas (extensões territoriais rodeadas por cadeias montanhosas) e formações rochosas típicas.
Melhor época para visitar Salta
Com um clima agradável, a região registra temperaturas quentes no verão, com máximas de 28°C e mínimas em torno de 16°C. No inverno, a amplitude térmica é grande: os termômetros costumam alcançar mais de 20°C durante o dia e uma queda de temperatura à noite, que chega a até 3°C, dependendo da localidade. Janeiro registra o maior índice pluviométrico, porém as chuvas ocorrem principalmente nas regiões montanhosas.
Cidades com passeios surpreendentes
Além da capital, que possui o mesmo nome da província, há muitas outras cidades a serem descobertas. Municípios como Cachi e Cafayate têm seus encantos únicos. O vilarejo de San Antonio de Los Cobres, encravado na montanha, dá acesso ao famoso passeio do Trem das Nuvens, muito procurado na região. Mais ao sul, a cerca de 1 hora de carro de Cafayate, é possível chegar à província vizinha de Tucumán, onde somos surpreendidos com o sítio arqueológico de Quilmes e com a pacata cidadezinha de Tafí del Valle.
História da província
Fundada em 1582 e famosa pela arquitetura colonial, a cidade está situada a 1.152 metros acima do nível do mar. No centro, encontramos a Praça 9 de Julio, um local histórico, onde se deu a fundação da cidade, que recebeu esse nome para celebrar a data de declaração da independência da Argentina.
Nos arredores da praça encontram-se vários comércios, como hotéis, lojas e restaurantes. A poucas quadras dali localiza-se a Basílica e Convento de San Francisco, um dos edifícios mais fotografados da região. Essa construção tem uma torre do sino com altura de 54 metros, considerada a maior da América do Sul.
Ao lado, encontra-se o museu do convento, que funciona com visitas guiadas e possui um belo pátio interno. No local, ficam expostos artefatos católicos, instrumentos musicais, esculturas, pinturas e outros objetos histórico.
Gastronomia e cultura
Na capital também é possível vivenciar experiências gastronômicas e culturais únicas. Em frente à praça fica o charmoso restaurante Adobe Cocina Regional, situado em uma antiga casa abandonada em estilo colonial, com um belíssimo pátio interno. Ali são servidas comidas típicas como humitas e tamales (feitas com milho); locro (um ensopado a base de abóbora, feijão e milho) e empanadas de vários sabores.
Outro restaurante disputado na área é o La Vieja Estación, que serve empanadas e diferentes tipos de carne. É muito frequentado por turistas e habitantes da cidade. O estabelecimento é palco de apresentação de peñas folclóricas, shows em que artistas com trajes típicos mostram a cultura local por meio de danças e músicas da região.
Viagem com paisagens deslumbrantes no trem das nuvens
Um passeio imperdível para quem visita Salta é a viagem no Trem das Nuvens, cujo ponto de partida é o vilarejo de San Antonio de los Cobres, localizado a 159 quilômetros da capital. A experiência, no entanto, começa muito antes. Ao sair de Salta é preciso pegar a rodovia RN 51 que cruza paisagens pitorescas na Quebrada del Toro. As colinas coloridas chamam a atenção: o acúmulo de diferentes minerais pinta as montanhas com diferentes tons.
O caminho passa por cidadezinhas como Campo Quijano e Santa Rosa de Tastil. Há uma parada no vilarejo El Alfarcito, que foi construído ao redor de uma escola fundada pelo padre Chifri nos anos 90. Nesse local, é possível tomar um café da manhã típico, com empanadas doces e pães salgados.
Os encantos do caminho até as vinícolas locais
Partindo da cidade de Salta e percorrendo o Valle de Lerma, chega-se à Quebrada de Escoipe, onde é possível fazer uma parada no mirante da Cuesta del Obispo, que atrai por seu visual deslumbrante. No local, existem diversas barraquinhas que vendem artesanato e alimentos. A rota até ali é enfeitada pelos enorme cactos do Parque Nacional Los Cardone.
Depois de passar pela cidadezinha de Payogasta chega-se a Cachi, município localizado nos Vales Calchaquíes. Ali é onde se situa a vinícola Puna, que oferece almoço e visita guiada para os turistas. Os vinhos produzidos na região têm características únicas, já que diversos fatores favorecem as plantações: a altitude, o clima, a amplitude térmica, os raios ultravioletas e o terreno.
A região de Cafayate é a segunda maior produtora de vinhos
Chegando em Cafayate, é possível avistar plantações e vinícolas em toda parte, já que a região é a segunda maior produtora de vinhos da Argentina (perdendo apenas para Mendoza). Algumas dessas propriedades ficam próximas ao centro, enquanto outras são acessíveis mais facilmente de carro.
A El Esteco é uma das maiores e mais tradicionais vinícolas nessa localidade e possui também um hotel e um restaurante. O tamanho e a estrutura do empreendimento impressionam: os vinhos são armazenados em tonéis tradicionais, mas também no solo e em colunas na parede.
Visita às ruínas da civilização Quilmes
Ao sul de Salta, a província de Tucúman reserva uma possibilidade de passeio ímpar: a visita às ruínas da civilização Quilmes. Rodeados de montanhas e cardones, os visitantes são convidados pelo guia a fazer o ritual da Pachamama, a mãe terra cultuada nessa região. Pedras são empilhadas para a construção de uma apacheta, lugar onde é feita a oferenda.
A visitação segue com a entrada no museu local, muito moderno e que conta a trajetória dos Quilmes com a ajuda de recursos como projeções em 3D, maquetes e réplicas de objetos históricos. A última sala a ser visitada apresenta um filme de poucos minutos. Encenada pela população local, descendente da civilização histórica, revive a luta e o calvário desse povo.
Saindo do museu, é possível ver com os próprios olhos o que restou dessa comunidade: as construções já não possuem telhados, mas as paredes continuam intactas. Eram edificações grandes, quadriculares, que abrigavam mais de uma família cada uma. Quem estiver com mais tempo pode também subir uma trilha na montanha e ter uma visão mais ampla do entorno.
O fim da viagem “tem portal para o mundo superior”
Na Rota Nacional 68, o visitante descobre outro cenário surpreendente: a Quebrada de las Conchas, que recebeu esse nome porque na sua localidade foram encontradas conchas e fósseis marinhos. Subindo o mirante Tres Cruces é possível ter uma ampla vista da região. O tom avermelhado das montanhas é devido ao óxido de ferro acumulado nas encostas.
Um dos pontos mais visitados pelos turistas nessa área é o Anfiteatro, uma formação rochosa semicircular de mais de 20 metros de altura com uma acústica impressionante. O lugar é patrimônio cultural da comunidade indígena local. Na entrada existe, inclusive, uma placa sinalizando sua aura mítica e indicando que ali é um solo sagrado e portal para o mundo superior.
A beleza deslumbrante do local chama a atenção por si só, mas, para complementar o cenário, artistas regionais se apresentam cantando músicas em espanhol. O coro de hermanos que acompanha a entonação do hino argentino, e que reverbera pelas paredes do lugar, chega a emocionar quem está ouvindo. Os músicos se arriscam até com canções em português, caso identifiquem brasileiros entre os turistas.
Parte do texto originalmente publicado na revista Qual Viagem (Edição 102)
Por Cláudia Costa