Que professor nunca se surpreendeu com o fato de seus alunos não saberem mais, na volta das férias, conteúdos que, com certeza, sabiam no ano anterior? Quem nunca se perguntou o que pode ter acontecido? Pois é, pasmem! A culpa é das férias.
De acordo com dados da National Summer Learning Association (NSLA), entidade que oferece programas de férias para crianças carentes nos Estados Unidos, a cada mês de férias, crianças “desaprendem” cerca de 10% do que sabiam em Matemática. O resultado da interrupção de aprendizagem durante esse tempo de descanso provoca uma diminuição do desenvolvimento intelectual.
Em leitura e escrita, o prejuízo é maior em crianças de baixa renda: elas perdem o equivalente a até 15% de desenvolvimento dessas habilidades. Em paralelo a isso, crianças em famílias com maior poder aquisitivo aumentam essas competências durante esse período.
Consequências da falta de desenvolvimento no aprendizado
As diferenças de desempenho são cumulativas e afetam toda a vida escolar dos alunos. De acordo com dados da NSLA, até o quinto ano do ensino fundamental, os alunos de famílias de baixa renda acumulam um atraso de desenvolvimento de até três anos em relação aos estudantes de famílias de renda mais alta.
Um estudo realizado pela Universidade Johns Hopkins indica que a lacuna de desempenho entre estudantes de baixa renda e os de renda mais alta pode ser atribuída às diferenças de desaceleração do aprendizado durante os períodos de férias, ou seja, chega na frente não apenas quem aprende mais, mas quem “desaprende” menos.
Formas de incentivar o ensino nas férias
Precisamos minimizar essas defasagens, em especial entre as crianças de menor nível socioeconômico, e a melhor maneira de fazer isso é colocar os estudantes para desenvolver atividades cognitivas durante as férias. Não estamos falando de colocá-los para estudar todos os dias, revisando a matéria do ano anterior, pois as férias são necessárias para todos. Estamos falando de desenvolver atividades de raciocínio como jogos, interpretação de histórias ou montagem de protótipos.
A escola também precisa envolver as famílias dos alunos no processo e pensar, quem sabe, num planejamento conjunto de atividades cognitivas para as férias, que precisam passar a ser encaradas como parte do currículo. Afinal, a escola é a maior vítima desse período tão aguardado, mas nocivo para o processo de aprendizagem.
Por Júlio Furtado
Consultor educacional e escritor. Pedagogo e Mestre em Educação pela UFRJ. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Havana (Cuba). Orientador Educacional do Colégio Professor Anselmo (RJ).