Países tropicais, como o Brasil, são reconhecidos por seus dias ensolarados, temperaturas médias elevadas e baixa amplitude térmica (pouca diferença entre as temperaturas mínima e máxima). Mesmo assim, no inverno, cerca de 1% da população é afetada pela depressão – ou ansiedade climática. Parece pouco, mas são mais de 2 milhões de brasileiros.
Os dados do Departamento de Psicologia Médica da King’s College/Universidade de Londres mostram que o problema é real: dias nublados, chuvosos e frios levam a alterações emocionais, no sono e no humor. A incidência é mais comum em países como Finlândia, Noruega e Suécia, mas na região Sul do Brasil, nos meses de outono e inverno, não é raro que os moradores apresentem alguns sintomas.
Redução da luz solar impacta o cérebro
Mestre em Análise do Comportamento, o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos explica que a redução da luz solar atrapalha o funcionamento adequado do hipotálamo. “Essa região cerebral é importante para a produção de hormônios e regula várias funções do organismo. No inverno, quando as noites são mais longas e escuras, ficamos mais sujeitos a alterações emocionais”, explica.
De acordo com o professor do curso de Psicologia do UniCuritiba – instituição que integra a Ânima Educação –, a exposição ao sol estimula a produção de serotonina, dopamina e outros neurotransmissores que atuam no humor e na capacidade de lidar com o estresse e a ansiedade.
“No inverno, por causa do frio, as pessoas tendem a fazer menos atividades físicas e a sair menos de casa para encontrar amigos ou para atividades de lazer. Isso aumenta os sintomas, sendo importante adaptar a rotina e a vida social a atividades compatíveis com o clima deste período”, recomenda.
Sintomas da depressão de inverno
Os sintomas mais comuns da depressão de inverno – também conhecida como transtorno afetivo sazonal ou ansiedade climática – são sonolência ou insônia, variações no apetite, cansaço, fraqueza, desânimo, baixa motivação para as tarefas diárias e isolamento social. O motivo da tristeza, abatimento e até estresse está associado à pouca luminosidade e menor exposição ao sol, que interferem na produção de serotonina e melatonina.
Prevenindo a depressão de inverno
A psicóloga Daniela Jungles explica que o clima é um estressor universal e a maioria das pessoas reage, física e emocionalmente, em menor ou maior grau, às oscilações de calor, frio, chuva ou vento. Para lidar com o inverno sem abalar o emocional, a professora do UniCuritiba ensina algumas boas práticas:
1. Descanse mais
Aproveite o clima para desacelerar, relaxar e valorizar a permanência em casa – caso você não tenha disposição para sair no inverno. O descanso traz uma sensação de calma porque diminui o nível de cortisol, hormônio ligado ao estresse.
2. Coloque a leitura em dia
Ler tem efeitos positivos no cérebro, proporciona sensação de bem-estar e contribui para afastar as preocupações do dia a dia. Outra opção é aproveitar os dias frios e cinzentos para ver um bom filme ou série.
3. Cuide da alimentação
As refeições estão diretamente ligadas às sensações de prazer e afeto. Cozinhar é um poderoso antidepressivo natural e uma ótima atividade para se distrair. Escolha uma receita bem gostosa e surpreenda a família.
4. Evite o isolamento social
As conexões sociais são importantes e, mesmo em casa, organize encontros com amigos e familiares. A internet facilita o contato com quem mora longe. Crie o hábito de fazer videochamadas para conversar com pessoas queridas.
Para finalizar, os professores de Psicologia do UniCuritiba reforçam a importância de cuidar da saúde mental. “Não deixe que a ansiedade climática ou depressão de inverno se instale. É importante tomar medidas proativas para cuidar da saúde física e mental. Se você já sabe que o inverno afeta suas emoções, redobre os cuidados”, ensina Daniela Jungles.
Outra dica, lembra o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos, é procurar ajuda. “Se você não consegue lidar sozinho com as emoções associadas aos dias frios, cinzentos ou chuvosos, busque orientação de um profissional enquanto espera pela primavera ou verão”, recomenda.
Por Marlise Groth