A depressão é um distúrbio psiquiátrico ocasionado por um desequilíbrio da serotonina e noradrenalina, neurotransmissores responsáveis por regular o humor, a sensação de prazer, o bem-estar e a disposição. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença atinge mais de 300 milhões de pessoas de diferentes idades em todo o mundo. No Brasil, a estimativa é de 11 milhões de casos.
“Trata-se de um transtorno com sintomas persistentes que podem durar por um período prolongado, com variações de intensidade e interferência nas atividades diárias”, explica Nathália de Paula, psicanalista clínica, educadora parental e especialista em Terapia Emocional de Famílias e Terapia Integrativa do Sono Infantil.
Principais sintomas
Os sintomas da depressão podem variar de pessoa para pessoa. Contudo, eles geralmente envolvem uma combinação de alterações emocionais, cognitivas, físicas e comportamentais. A seguir, Nathália de Paula lista os principais sinais:
- Tristeza, desesperança e/ou sentimento de vazio;
- Perda de interesse e/ou prazer;
- Diminuição ou ausência de autocuidado;
- Distúrbios do sono;
- Dificuldades de concentração;
- Fadiga e/ou perda de energia;
- Sentimento de culpa e/ou inutilidade;
- Alterações no apetite e no peso;
- Retardo psicomotor ou agitação;
- Disfunções sexuais;
- Dores de cabeça, dores musculares e/ou distúrbios gastrointestinais;
- Pensamentos suicidas e/ou automutilação.
A psicanalista apenas ressalta que, para o diagnóstico de depressão, os sintomas devem estar presentes por um longo período e interferir de forma significativa nas atividades do indivíduo.
Subtipos e níveis de depressão
A depressão apresenta alguns subtipos, conforme descreve Nathália de Paula:
- Transtorno depressivo maior: um dos subtipos mais comuns de depressão. Envolve uma combinação de sintomas, como tristeza, perda de interesse, alterações no apetite e no peso, fadiga, sentimento de culpa, dificuldades de concentração e pensamentos suicidas;
- Transtorno distímico (ou distimia): os sintomas deste subtipo são menos intensos, porém mais persistentes. Eles incluem tristeza, perda de energia, dificuldades de concentração e alterações no apetite e no peso;
- Depressão pós-parto: como o próprio nome diz, é uma condição que afeta as mulheres logo após o parto. Os sintomas incluem choro frequente, tristeza, alterações no sono e falta de vínculo com o bebê;
- Transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM): é uma forma específica de depressão que ocorre em mulheres durante o período pré-menstrual. Os sintomas incluem irritabilidade, alterações no sono, dores de cabeça, dores musculares e cólicas menstruais;
- Transtorno depressivo induzido por substâncias: é um subtipo que pode ser desencadeado pelo uso ou retirada de determinada substância, como álcool, drogas ou medicamentos. Na maior parte dos casos, os sintomas incluem tristeza, sentimento de culpa, alterações no sono, agitação ou atrasos no movimento e pensamentos suicidas.
Em relação aos níveis de depressão, a Dra. Eveny Machado, psiquiatra e graduanda em Psicologia, relata que eles são divididos em leve, moderado e grave. “O que vai diferenciá-los é a intensidade dos sintomas e os prejuízos causados por eles”, complementa.
Causas da depressão
A depressão é um transtorno multifatorial, isto é, pode apresentar diversas causas, como “genéticas (familiares de primeiro grau com o diagnóstico), psicológicas (falta de afetividade) e ambientais (experiências adversas na infância, uso de álcool ou outras drogas e falta de fatores de proteção)”, detalha Luciana Garcia, neuropsicóloga, psicopedagoga e doutoranda em Pediatria.
A psicanalista Nathália de Paula acrescenta que cada paciente pode ter uma combinação única de fatores que contribuem para o surgimento da depressão. Desse modo, o diagnóstico e o tratamento adequado variam de pessoa para pessoa.
Grupos de riscos
Qualquer pessoa está sujeita a desenvolver depressão, todavia existem os chamados grupos de riscos. Segundo a psicanalista Nathália de Paula, devido a questões biológicas, sociais e psicológicas, esses conjuntos de pessoas incluem mulheres, adolescentes, jovens adultos e idosos. Dentre eles, há pessoas com histórico familiar de depressão, com histórico de traumas, com problemas de saúde mental coexistentes e com orientações sexuais e identidades de gêneros minoritárias.
Depressão e outras doenças
Conforme esclarece a Dra. Eveny Machado, a depressão também pode estar relacionada a outras doenças físicas e psicológicas, como hipotiroidismo, deficiência vitamínica, anemias, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), esquizofrenia, distúrbios de ansiedade e bipolaridade.
Tratamentos recomendados
Os tratamentos para o transtorno incluem a prática terapêutica e o uso de medicamentos. Entre as terapias mais indicadas, a cognitivo-comportamental costuma ser a mais comum, mas isso vai depender de cada paciente.
“Isso porque, como vimos anteriormente, os sintomas da depressão envolvem fatores cognitivos (forma de pensar, baixa autoestima, dificuldade de concentração, falta de prazer e dificuldades de tomar decisão) e fisiológicos/comportamentais (alterações de sono e apetite, cansaço, perda de energia e disfunções psicomotoras). Desse modo, necessitamos de uma abordagem que abarque todas essas questões de forma rápida e direta”, exemplifica a neuropsicóloga Luciana Garcia.
Em relação ao tratamento medicamentoso, a Dra. Eveny Machado comenta que ele é realizado inicialmente com o uso de Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS), antidepressivos que aumentam a concentração de serotonina no corpo e no cérebro. “As doses desses medicamentos são variadas e podem ser combinadas com antipsicóticos e estabilizadores de humor, a depender do quadro de cada paciente”, acrescenta. Importante ressaltar que só o médico psiquiatra pode receitar os medicamentos.
A importância da família e dos amigos
Ter uma rede de apoio é fundamental durante o tratamento de diversos transtornos, inclusive da depressão. Portanto, para um auxílio efetivo ao paciente, a psicanalista Nathália de Paula recomenda que amigos e familiares mostrem empatia e compreensão, ofereçam suporte emocional, ajudem nas tarefas diárias, estimulem a prática de atividades positivas, evitem julgamentos e estigmas, fiquem atentos aos sinais de piora e cuidem da própria saúde mental.
Hábitos saudáveis como grandes aliados
Adotar hábitos de vida saudáveis é essencial tanto para prevenir a depressão quanto para ajudar no tratamento. Logo, o Dr. José Luis Oliveira, psiquiatra da rede Kora Saúde e integrante da diretoria da APES (Associação Psiquiátrica do Espírito Santo), aconselha que todas as pessoas, com ou sem transtornos mentais, combatam o sedentarismo, desenvolvam uma alimentação saudável e evitem o uso de álcool e outras drogas. Ainda, é preciso controlar o estresse, garantir noites de sono de qualidade e nutrir bons relacionamentos afetivos.