A quem uma criança busca apoio quando enfrenta um momento emocional desafiador? Aos pais? Aos professores? Ou será que busca amparo em amigos? De acordo com uma pesquisa recentemente divulgada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), órgão que está ligado à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), 32% das crianças e adolescentes brasileiros, com idades entre 11 e 17 anos, preferem recorrer à internet.
A busca de apoio emocional no campo virtual, segundo o levantamento feito entre outubro de 2021 e março de 2022, se dá mais entre meninas (36%) do que entre meninos (29%). O percentual aumenta consideravelmente conforme o adolescente cresce, chegando a ser o triplo na faixa dos 15 aos 17 anos, quando comparada com a faixa etária de 11 a 12.
A pesquisa, que ouviu 2.651 crianças e jovens de 9 a 17 anos e o mesmo número de pais ou responsáveis em todo o território brasileiro, buscou compreender de que forma as crianças e os jovens nessa faixa etária utilizam a internet e como lidam com os riscos e as oportunidades decorrentes desse uso.
O papel dos pais e educadores
Para evitar que crianças e adolescentes entrem para essa estatística, Miriam Sales, Coordenadora Pedagógica da Mind Lab, referência em desenvolvimento socioemocional, sugere caminhos para pais e responsáveis não perderem sua posição para o Google quando os pequenos precisarem de apoio emocional.
“Crianças vão aprender a lidar com emoções e sentimentos à medida que crescem e o cérebro se desenvolve. Por isso, pais e mães, professores e professoras, e adultos em geral com quem ela se relaciona, são os principais responsáveis por ajudá-las no reconhecimento dessas emoções e sentimentos. Esse papel dos adultos no desenvolvimento da compreensão das emoções é muito importante desde os primeiros anos e, portanto, a educação infantil”, destaca Miriam.
Ajudando as crianças e os adolescentes
A educação socioemocional, ao despertar a atenção dos adultos para a importância desse desenvolvimento, torna mais intencionais as ações e os exemplos que os adultos dão às crianças. Nesse contexto, Miriam Sales destaca 8 formas que os adultos podem colaborar com este processo, ensinando as crianças a reconhecerem e compreenderem suas próprias emoções. Confira!
1. Reconheça as emoções com a metodologia do semáforo
Alegria, tristeza, raiva e ansiedades são emoções básicas e, embora toda criança as sinta ao longo do crescimento, nem todas sabem reconhecê-las. Aprender a nomear essas emoções e entender as reações que cada uma delas causa em nós é fundamental para aprender a lidar com elas.
Um método que pode ajudar nesse processo chama-se “semáforo”, usado por especialistas em metodologias metacognitivas (ou do pensamento). Ele pode ser reproduzido de maneira simples no nosso dia a dia.
Com ele, você pode ensinar as crianças a pararem diante de uma situação que traz à tona alguma emoção (luz vermelha do semáforo), refletir sobre o que está sentindo e as reações desencadeadas pela emoção (luz amarela) e só então decidir sobre como agir (luz verde).
2. Ajude a desenvolver o autoconhecimento
Tudo o que acontece em nossa vida é uma oportunidade para descobrirmos quem somos, como se comportam nossas emoções e de que forma reagimos a elas. Esse autoconhecimento sobre a própria personalidade é importantíssimo para identificarmos os gatilhos que nos direcionam para determinadas reações.
O “método do espelho” é uma ferramenta poderosa para desenvolver o autoconhecimento. Com ela, imaginamos que estamos diante de um espelho para analisarmos nossas emoções, pensamentos e ações, para identificar nossos pontos fortes e aqueles em que podemos melhorar.
3. Ensine a aprender com os erros
Apesar daquela frase popular que diz “errar é humano”, todos fomos ensinados de que o erro é uma coisa negativa. Só que não é. Erros fazem parte da vida e nos ajudam a evoluir emocionalmente. Frustração e tristeza são emoções desconfortáveis, mas podem nos trazer aprendizados se soubermos lidar com elas. O “método da tentativa e erro” se dispõe a nos ensinar a habilidade de arriscar, aprender com o erro, fazer correções e tentar novamente.
4. Ensine a criar rotinas
Além de trazer segurança às crianças, aprender os passos necessários para estruturar uma rotina cotidiana ajuda nossos filhos e filhas a crescerem como pessoas que sabem traçar objetivos claros e se planejar para alcançá-los. O “método da filmadora” nos auxilia na conquista dessas duas importantes habilidades: ter clareza de um ponto de chegada e das necessidades de cada etapa na construção desse caminho.
5. Ensine a reconhecer limites
As normas ajudam as crianças a desenvolverem disciplina e construir caminhos seguros para atingir seus objetivos, sabendo o que podem e o que não podem fazer. O “método do alpinista” nos ajuda a entender que o sucesso não está em avançar sempre, a qualquer custo. Recursos estratégicos e respeito a limites são barreiras que têm muito a nos ensinar sobre os caminhos mais seguros para o desenvolvimento.
6. Estimule a independência
Mais importante do que ajudar nas tarefas é ensinar seu filho que ele é capaz de resolver algo sozinho. A independência fortalece a autoconfiança para enfrentar obstáculos na vida. O “método da escada” nos ensina a importância de aprendermos os passos necessários para avançarmos numa caminhada, ampliando a autoconfiança na resolução de problemas.
7. Desenvolva o foco
O mundo superconectado em que vivemos contribui, muitas vezes, para o aumento da ansiedade. Uma criança capaz de focar no que realmente é importante tem melhores ferramentas para lidar com essa superexposição a estímulos externos. O “Método do Filtro” nos ensina a selecionar, extrair e usar apenas o que é realmente relevante para a situação que enfrentamos.
8. Ensine a noção de responsabilidade
Nossas atitudes e decisões têm consequências e aprender a lidar com elas é parte do desenvolvimento emocional de qualquer criança. O “Método da Árvore do Pensamento” nos auxilia a enxergar as diferentes opções diante de uma situação, e a entender as consequências de cada uma delas, facilitando a tomada de decisões de forma consciente, autônoma e responsável.
Por Grazieli Binkowski