8 respostas para dúvidas sobre a dengue
A dengue é uma doença que tem preocupado os brasileiros e, com o pico das infecções chegando, entre os meses de abril e maio, o alerta para a condição tem ganhado ainda mais destaque. Segundo o Ministério da Saúde (MS), 192 municípios decretaram emergência, e o país já acumula cerca de 1,2 milhões de casos.
No entanto, mesmo diante dos números, muitas dúvidas ainda acometem a população. Para esclarecer o assunto, o Dr. Evaldo Stanislau, infectologista e gerente da Inspirali (ecossistema de educação médica), responde algumas perguntas sobre a dengue. Confira!
1. O que explica a alta nos casos de dengue?
Temos como principal motivo a mudança climática. Juntamente à chegada do fenômeno El Nino, constatou-se uma onda muito forte de calor, bem como muita umidade. Essas duas condições já são suficientes para a progressão dos ovos na forma de larva e, enfim, do mosquito. Contudo, também existem outros fatores que explicam a alta nos casos.
A pandemia de COVID-19 mobilizou muito os recursos de saúde e, com isso, os programas de dengue ficaram desguarnecidos, o que gerou chance para que a vigilância não fosse tão efetiva. Outro fator é a falta de imunidade de uma geração de pessoas.
A população vai se sucedendo e diversas crianças e jovens não tiveram contato com o vírus, enquanto pessoas mais velhas já tiveram dengue, de surtos anteriores (assim, possuem uma vacina natural de imunidade contra a doença). Por fim, há o próprio ciclo da dengue, que, de tempos em tempos, passa por um crescimento natural.
2. Quais os diferentes tipos de vírus da dengue?
Hoje temos quatro sorotipos diferentes. Se uma pessoa contrai um, ela já está protegida contra este mesmo para sempre. A circulação dos tipos 1 e 2 é mais comum, por isso muitas pessoas têm imunidade a eles. Os tipos 3 e 4 circularam menos e por isso temos mais pessoas susceptíveis. Neste ano, o Brasil está registrando a circulação de vários sorotipos; em Minas Gerais, por exemplo, os 4 circulam simultaneamente, é isso aumenta a chance de formas graves.
3. O que é o Aedes aegypti e o quanto ele é perigoso?
Aedes aegypti é um mosquito importante do ponto de vista médico. Ele transmite zika, chikungunya, dengue e febre-amarela, sendo, assim, muito perigoso. Mas não é só ele que transmite a doença: quem traz o vírus é o ser humano infectado. A maioria das pessoas infectadas não apresenta os sintomas, mas não deixa de transmitir o vírus para o mosquito, que pica o ser humano e vai amplificando o ciclo.
Atualmente, a doença que vem preocupando a todos é a dengue, seguido da chikungunya, que corre em paralelo. Esta primeira tem uma característica clínica muito parecida com todas as outras arboviroses e comum, de certa forma, para doenças infecciosas: febre, dor no corpo e mal-estar.
Porém, o que chama atenção é o momento epidemiológico. Qualquer pessoa que sinta algum sintoma deve procurar orientação médica para fazer o diagnóstico clínico e epidemiológico. Quando estamos em uma epidemia declarada, o exame confirmatório fica menos importante.
4. Por que ainda não temos vacina para todos?
A vacina contra a dengue é um avanço científico e logo teremos também a vacina contra a chikungunya. A falta de vacina para todos não é exatamente culpa de ninguém. O laboratório responsável não tem condições, por diversas questões, de fornecer o suficiente para toda a população e priorizou o fornecimento exclusivamente para o Sistema Público de Saúde (SUS).
Todavia, mesmo que tivéssemos, só sentiríamos mesmo o impacto da vacina em meados de 2025, pois o processo ainda é longo entre tomar todas as doses e estar protegido. Para este ano, é primordial focar em medidas de proteção individual e de combate ao mosquito.
5. Como identificar se estou com dengue, COVID ou gripe?
A pessoa que se sente doente, com um grande mal-estar, dor de grande intensidade, febre e manchas no corpo, é bem provável que tenha dengue. O principal sintoma de COVID ou gripe é respiratório e inclui dor de garganta, tosse, nariz entupido. Mal-estar, febre e indisposição são comuns em todos. No entanto, em casos de muita dor no corpo, dor atrás dos olhos, mancha no corpo, dor de cabeça, vômito, dor muscular e nas articulações, a primeira coisa é pensar na alternativa dengue.
A pessoa infectada com dengue pode ter uma melhora em torno do terceiro dia de contaminação e, depois, aparecerem complicações como dor abdominal, falta de ar e pequenos sangramentos na gengiva, por exemplo. Nos últimos dias de infecção, podem aparecer coceiras pelo corpo. Em casos mais graves, a doença continua evoluindo e a pessoa apresenta quadros como confusão mental, sonolência, queda importante da pressão arterial e até mesmo coma.
6. Quais são os sintomas da chikungunya?
Trata-se de uma doença desafiadora. Os sintomas geralmente são febre, erupções na pele e dores fortes, e as sequelas são piores. Não existe um tratamento específico para a doença, mas são utilizados, geralmente, corticoides, que podem ter efeitos colaterais. É importante prestar atenção aos sintomas, bem como procurar um posto de saúde.
7. Qual medicamento não deve ser adquirido em caso de suspeita de dengue?
Não podemos usar medicamentos que potencializam o risco de sangramento e que podem fazer mal para o fígado. É o caso do ácido acetilsalicílico ou anti-inflamatório. Em geral, o fundamental é procurar ajuda médica desde os primeiros sintomas e cuidar da hidratação, pois o vírus da dengue provoca perda de líquido.
8. Todo mundo está sujeito a contrair a doença?
Não é necessariamente o componente viral que desencadeia a gravidade da doença. Isso está muito mais relacionado a uma resposta imunológica. Indivíduos que já tiveram dengue anteriormente estão mais suscetíveis a ter formas mais graves, pois parte de uma resposta imunológica que não é zero, e sim uma resposta exacerbada.
Cerca de 5% dos casos podem evoluir para dengue com complicações. Gestantes, doentes crônicos, idosos e crianças menores de dois anos são mais propensos a formas mais complicadas por características imunológicas, pelas doenças crônicas. Por isso, já são naturalmente pacientes de maior preocupação.
Por Juliana Antunes