A maconha, como é popularmente chamada a planta Cannabis sativa L., possui mais de 400 substâncias químicas, sendo que 60 delas se classificam na categoria de canabinoides, isto é, ativam os receptores canabinoides presentes no corpo humano.
O THC (tetra-hidrocanabinol), por exemplo, é um dos principais componentes psicoativos presentes nessa planta, bem como o mais potente. Quando ele é inalado ou ingerido, se liga aos receptores endocanabinoides (CB1 e CB2) presentes no cérebro e no corpo e, com isso, desencadeia uma série de reações neuroquímicas.
Benefícios do THC no tratamento de doenças
Devido às propriedades terapêuticas, segundo o médico Dr. Vital Fernandes Araújo, pós-graduado em Medicina Ortomolecular e em Psiquiatria, essa substância da cannabis pode beneficiar pacientes com variadas doenças. “É importante ressaltar que o THC não é uma cura milagrosa para nenhuma doença. No entanto, pode ser um tratamento eficaz para uma variedade de condições médicas”, ressalta.
A seguir, ele lista como o THC pode auxiliar no tratamento de algumas doenças. Veja:
- Dor crônica: o THC é um analgésico eficaz e pode reduzir a dor sem causar os efeitos colaterais negativos de muitos analgésicos comuns, como os opioides.
- Artrite reumatoide: a substância demonstra potencial para reduzir a inflamação e a dor nas articulações afetadas pela artrite.
- Epilepsia: pode ajudar a controlar as convulsões em pessoas com epilepsia refratária a outros tratamentos.
- Ansiedade: pode ser eficaz no tratamento da ansiedade, tanto aguda quanto crônica.
- Depressão: o THC pode ajudar a melhorar os sintomas da depressão, como o humor, o sono e o apetite.
- Doença de Alzheimer: pode ajudar a retardar a progressão da doença e a melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
- Doença de Parkinson: pode ajudar a reduzir os tremores, a rigidez e a dor nos pacientes.
- Câncer: pode ajudar a reduzir os sintomas da doença, como a náusea, o vômito e a dor.
- Asma: pode ajudar a relaxar os músculos das vias aéreas e melhorar a respiração em pessoas com asma.
- Doença inflamatória intestinal (DII): pode ajudar a reduzir a inflamação e a dor nos pacientes.
- Doenças cardíacas: pode ajudar a reduzir o colesterol, a pressão arterial e o risco de ataques cardíacos e derrames.
- Esclerose múltipla: pode ajudar a limitar a progressão da doença e a controlar sintomas musculares e neurológicos.
Além disso, conforme explica o médico, alguns estudos exploram o THC no tratamento da irritabilidade e da repetição de comportamentos associados ao transtorno do espectro autista.
TCH e dependência química
O uso desse tipo de substância pode causar dependência, especialmente com uso prolongado ou em doses elevadas. De acordo com a Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde, em 2021 aproximadamente 19% da população americana com 12 anos ou mais usava maconha. Desse total, quase 6% dos adolescentes e adultos atendiam aos critérios para dependência de cannabis.
“O THC tem potencial de causar dependência devido à capacidade de criar tolerância nos receptores e por fatores psicológicos. No entanto, a probabilidade de dependência é baixa. Estima-se que em torno de 10% de usuários de cannabis criam dependência. No entanto, o uso medicinal envolve outros canabinoides e outras vias de administração, o que provavelmente torna praticamente nula essa possibilidade”, enfatiza o psiquiatra Dr. Pietro Vanni, da Gravital, clínica canábica.
Além disso, o Dr. Vital Fernandes Araújo acrescenta que, apesar dos riscos, esse transtorno gerado pelo uso desse canabinoide em específico tende a ser menos severo do que o gerado por opioides ou cocaína. “Mas seu potencial viciante existe e deve ser monitorado, especialmente em tratamentos medicinais prolongados”, ressalta.
Efeitos colaterais do uso de THC
O uso medicinal do THC também pode gerar efeitos colaterais, assim como qualquer tipo de medicamento. Conforme o Dr. Pietro Vanni, o paciente pode apresentar: euforia e alterações no humor, problemas de memória de curto prazo, redução da coordenação motora, taquicardia, boca e olhos secos, aumento do apetite, sonolência ou insônia, tontura, aumento de ansiedade e paranoia.
Todavia, o psiquiatra ressalta que esses efeitos da substância estão relacionados à dosagem. Por isso, o acompanhamento médico é fundamental durante a utilização desse canabinoide.
Diferenças entre o uso medicinal e recreativo
Há algumas diferenças entre o uso medicinal e recreativo do THC. Conforme o Dr. Vital Fernandes Araújo, são elas:
- Origem: o THC medicinal é extraído da cannabis cultivada especialmente para fins terapêuticos, com níveis controlados de canabinoides. A substância utilizada para fins recreativos pode vir de diversas fontes não regulamentadas.
- Pureza e dosagem: versões medicinais possuem pureza e dosagem consistente de THC. Nas recreativas, isso varia muito entre produtos e plantas.
- Acompanhamento: o uso medicinal envolve prescrição e acompanhamento médico para avaliar reações e ajustar doses. O recreativo é usado sem supervisão.
- Motivação: o uso terapêutico visa o tratamento de problemas de saúde. O recreativo busca lazer, relaxamento ou alteração de consciência.
- Efeitos: medicinalmente, os efeitos psicoativos indesejados do THC são minimizados para enfatizar os terapêuticos. O recreativo, por sua vez, busca potencializar os efeitos sensoriais e alucinógenos.
- Riscos: o uso medicinal bem monitorado é mais seguro. O recreativo traz mais riscos pelo uso inadequado e pela falta de controle sobre a substância.
Portanto, como alerta o Dr. Vital Fernandes de Araújo, “apesar de virem da mesma planta, são substâncias distintas quando usadas especificamente com objetivos terapêuticos ou recreativos”.
Cuidados importantes
No Brasil, conforme a lei 11.343/2006, os atos de adquirir, guardar, transportar ou cultivar drogas, para consumo pessoal, são considerados crime. No entanto, o uso medicinal do THC, desde que haja prescrição médica, é liberado. “Os produtos ricos em THC podem ser obtidos em farmácia (com receita especial do tipo A), por meio de importação e por meio de associação de pacientes”, explica o Dr. Pietro Vanni.
Além disso, conforme explica o Dr. Vital Fernandes de Araújo, existem algumas interações medicamentosas importantes relacionadas ao uso do THC, e a substância não pode ser utilizada por todas as pessoas e faixas etárias. Por isso, consultar um médico é fundamental antes de utilizar esse tipo de medicamento.