As decisões fazem parte da vida, mas nem sempre é simples escolher um caminho para seguir, especialmente se a mente está sobrecarregada. Certamente, você deve ter percebido que no começo do dia é mais fácil decidir entre levantar, dormir, escovar os dentes ou tomar café, e isso não é à toa. Ao acordarmos, o nosso corpo está “recarregado”, por isso o cérebro consegue definir melhor quais são as boas escolhas. Mas, no decorrer do dia, isso pode mudar.
Cérebro gerência energia
Nosso cérebro é limitado pelos seus recursos disponíveis. Imagine que você tem uma caixa d’água que permite a vazão de apenas 80 litros de água por dia, e você precisa priorizar para onde vai cada litro. E mais, desses 80 litros, 50 já estão comprometidos com as atividades obrigatórias que precisam ser feitas todos os dias. O cérebro trabalha mais ou menos assim para gerenciar o seu consumo de energia.
“Toda tarefa cognitiva que exige pensamento focado, como ponderar entre duas opções, avaliar o risco de uma decisão e tentar prever suas consequências ou, até mesmo, o esforço para resistir a uma tentação (como um doce após o almoço), representa uma atividade com alta complexidade e, também, alto custo energético. Ao longo de um dia, quanto mais alta a carga cognitiva no seu cérebro, mais rápido ele esgota a energia que tem disponível”, detalha Livia Ciacci, neurocientista parceira do SUPERA – Ginástica para o cérebro.
Influência da capacidade cognitiva nas escolhas
Partindo da premissa de que a noite de sono foi restauradora, o cérebro inicia o dia com todo seu potencial disponível. Todavia, o quanto de disposição e energia ele terá a noite dependerá da carga cognitiva sofrida ao longo do dia.
Carga cognitiva significa a carga imposta ao sistema cognitivo das pessoas, decorrente do esforço mental exigido na realização de tarefas, como a aprendizagem de novos conhecimentos ou a tomada de decisões.
“Por exemplo, se uma pessoa começa o dia trabalhando em reuniões, lidando com conflitos, depois vai à escola dos filhos resolver problemas, em seguida precisa atender clientes e a noite vai para a faculdade, com certeza ela chegará em casa esgotada”, explica Livia Ciacci.
“Diferente de alguém que estudou de manhã, trabalhou em atividades mais mecânicas e depois encontrou com os amigos. Essas duas pessoas terão diferentes níveis de energia para tomar uma decisão à noite. Mas, nos dois casos, não custa nada deixar para o outro dia”, acrescenta.
Decisões são baseadas na saúde geral do corpo
Não há um horário padrão para tomar decisões, porque, segundo a especialista, isso é algo que depende tanto do estado de saúde geral do corpo (que reflete no quão rápido a pessoa se cansa) quanto da intensidade do esforço cognitivo das tarefas já realizadas no dia.
Mas a lógica é que o poder de tomar decisões conscientes vai diminuindo ao longo do dia. “Alguns estudos já avaliaram as decisões tomadas por médicos e juízes em diferentes momentos do dia, e todos constaram essa diminuição da qualidade, mesmo que a pessoa não perceba”, diz Livia Ciacci.
Como otimizar energia?
A única maneira de garantir energia disponível para aquilo que é realmente importante é tendo um olhar cuidadoso para a rotina e para a sua agenda. Parece bobeira, mas acordar sabendo exatamente o que vai comer, vestir e organizar em casa antes de sair pode poupar seu cérebro de muitas decisões que são pequenas, mas geram esforço.
Para quem deseja ou precisa ter um alto desempenho cognitivo, a rotina é a maior aliada. Ela precisa ser fluida, fácil e sem atritos. E no quesito agenda, vale ter cautela ao se comprometer com muitas atividades, ou com atividades complexas no final do dia.
A dica aqui é usar a inteligência para distribuir as tarefas e compromissos estrategicamente ao longo da semana. Agora, considerando o período de um dia, podemos melhorar o desempenho do cérebro se hidratando, fazendo pausas e se alimentando nos horários corretos.
Papel dos estimulantes no desempenho do cérebro
Quando estamos usando os circuitos do cérebro para pensar, tomar decisões, ler, estudar e tantas outras tarefas, os neurônios consomem ATP – que é o combustível ou a gasolina do cérebro. Quebrar muitas moléculas de ATP gera um subproduto que é a Adenosina (como se fosse o gás carbônico da queima da gasolina). A adenosina vai se acumulando e se liga a receptores que causam a sensação de cansaço e sonolência.
“A cafeína se parece com a adenosina o suficiente para ocupar a ligação com esses receptores, mas seu efeito é oposto, ela vai evitar que se sinta o cansaço, além de induzir a liberação de adrenalina, que vai trazer a sensação de estar energizado. Mas tudo isso é temporário. E, quando passa o efeito, todo aquele cansaço está acumulado ali, e talvez até pior”, conta Livia Ciacci.
Sono, atividade física e estímulo cognitivo
Dentro deste contexto, o sono é o único recurso para ‘faxinar o cérebro’ e prepará-lo para mais uma rodada de atividades. Levar a qualidade do sono a sério é a estratégia mais eficaz e econômica para melhorar a performance mental.
Os exercícios físicos e a alimentação são os responsáveis pela saúde do corpo e do coração, essenciais para que o cérebro tenha equilíbrio para se dedicar ao esforço mental. “Lembre-se sempre que o corpo sinaliza para o cérebro como ele está, se está faltando água, nutrientes, ou se o metabolismo está bagunçado, e isso vai diminuir a disposição para se dedicar aos esforços cognitivos”, ressalta a neurocientista.
Já os estímulos cognitivos de qualidade, ou ginástica para o cérebro, tem a função de treinar o cérebro para diferentes tipos de processamentos. Quando ensino para o cérebro maneiras diferentes de lidar com problemas, cálculos ou outras habilidades cognitivas, ele gastará menos energia quando tiver que usar esses recursos. É como um atleta, que só consegue bater recordes de performance porque ele treina o suficiente para que aquela atividade se torne fácil para ele.
Por Ana Lucia Ferreira