Como uma sociedade pode se transformar em uma parceria duradoura
Sociedades de trabalho são como casamento. Não sei quem me disse isso. Mas comprovei, na prática, que existe uma verdade aí. Se terminam de forma abrupta, com brigas, silêncios e advogados raivosos, é porque as coisas já não caminhavam bem há tempos. Porém, nem sempre precisamos terminar as histórias assim, com dor e pesar. Pode ser leve. Quem me ensinou isso foi o Tiago, meu ex-sócio.
Nossa sociedade, ou casamento profissional, sempre funcionou muito bem. Tínhamos as ideias juntos, eu colocava em prática a parte intelectual e ele, a estrutural. Fazíamos acontecer e sempre fomos uma boa dupla. Havia confiança, respeito, amizade e um carinho mútuo enorme. Quando me separei (do casamento mesmo) e as coisas ficaram difíceis para mim, Tiago me ligou para conversar. Foi uma hora de troca sincera, doída e com lágrimas. Nunca vestimos uma roupa que não nos cabia. Nem mesmo títulos. Ele seguiu sendo o Tiago e eu, a Ana. Apenas. Brincava que ele era o pé no acelerador e eu, no freio. Ele entendia meu tempo. E respeitava isso, sem desistir.
Aceitando as mudanças e seguindo em frente
Há pouco mais de um ano, ele decidiu mudar de país. Foi para Portugal com a Patty e a filha deles, a Nina. Entre o trabalho e as burocracias da mudança, Tiago, a pessoa mais tranquila que conheço, entrou em parafuso. Foi a minha vez de acolher. “Você está bem?”. “Não, que bom que perguntou”.
Doze meses de Portugal, entendi que a troca não havia sido apenas de continente. Mas de desejos. No início deste ano, na nossa primeira conversa de negócios, ele disse com seu jeitinho mineiro: “pensei muito e não estou mais conseguindo ser um bom sócio para você. Meu caminho mudou”. Eu já sabia. Só não tinha coragem de dizer para ele. “Será que vou conseguir sozinha?”. “Claro. Esse voo agora é seu”.
Passando o bastão
Na primeira semana após a notícia, fiquei feito bicho acuado. Cheia de medo. Não consegui trabalhar. Até que entendi: seria preciso catar toda a coragem que carrego e seguir. Não teve burocracia de final de relação nem desentendimentos – foi o melhor final de casamento da vida. Tiago deu para mim a metade do negócio que lhe pertencia. Irmão de alma. E, desde então, temos reuniões semanais nas quais conversamos sobre cada etapa dessa passagem de bastão. Como me prometeu, só soltará da minha mão quando eu estiver pronta. Estou quase lá. Empreendedora e CEO da coisa toda. Brincadeira. Títulos não me representam. Ana. Apenas.
Por Ana Holanda – revista Vida Simples
É jornalista e finalmente entendeu que, por trás da sua sensibilidade, existe uma mulher muito forte.