6 doenças que afetam a fertilidade feminina
Por Simone Valente
Com a evolução da obstetrícia – ciência médica responsável pela gravidez, parto e puerpério –, atualmente é possível saber que o estilo de vida adotado pelas mulheres e homens que desejam ter um bebê interfere diretamente na possibilidade de o gerarem. Além disso, inúmeras doenças e disfunções são capazes de impedir que a gestação aconteça ou que, quando a concepção ocorra, o embrião não seja implantado ou mesmo não consiga se desenvolver.
Busque entender as causas
Segundo a médica ginecologista e obstetra Dra. Mariana Rosario, membro do corpo clínico do hospital Albert Einstein, quando uma mulher tem dificuldade de engravidar é importante que ela investigue logo o que está acontecendo, para evitar problemas futuros “E se há uma perda gestacional, é fundamental que ela seja investigada imediatamente, na primeira vez que ocorre. Não se deve aguardar que aconteça um segundo aborto, até mesmo em respeito a essa família”, alerta.
Segundo a obstetra, algumas condições de saúde da mulher podem ser a causa de não haver a concepção, a não implantação do embrião ou a perda gestacional. Por isso, a Dra. Mariana Rosario relata 6 problemas comuns nessa fase e explica como é realizado o diagnóstico e tratamento para cada um deles. Confira!
1. Disfunção da tireoide
A tireoide é chamada de “maestrina” do metabolismo. Isso porque ela produz os hormônios T3 e T4, que ajudam a regular a função de diversos órgãos, como intestinos, cérebro, rins, fígado e coração.
Em desequilíbrio, esses hormônios atrapalham a gestação. Começando com o hipertireoidismo, com a alta produção dos hormônios T3 e T4, o metabolismo fica acelerado, bem como as funções corporais.
Assim, muitas mulheres não ovulam e têm a menstruação irregular ou suspensa – o que impede a gestação. Se a gestação ocorre, pode haver alterações no feto ou aborto. Portanto, é importante tratar o problema antes de engravidar ou, caso a gestação aconteça, ter acompanhamento durante todo período.
Relação entre os hormônios da tireoide e os ovários
Existe uma relação direta entre os hormônios da tireoide e os ovários. De forma mais simples, a glândula hipófise, localizada no cérebro, estimula a produção tanto dos hormônios dos ovários quanto dos da tireoide, e os receptores para os hormônios tireoidanos encontram-se justamente nos ovários.
Assim, quando faltam hormônios tireoidanos – condição causada pelo hipotireoidismo – a ovulação é prejudicada e a gravidez pode não acontecer. O bebê também precisa do hormônio T4 para se desenvolver plenamente, então, é fundamental que a mãe tenha essa dosagem regulada no seu organismo.
2. FSH alto
FSH é a sigla para o hormônio folículo-estimulante, uma substância que auxilia o ovário na produção de hormônios. Toda mulher nasce com o número exato de óvulos que terá durante sua vida e, a cada ciclo, libera os que serão fecundados e gerarão embriões ou, então, serão expelidos na menstruação.
Conforme os anos passam, a quantidade de óvulos diminui e essa redução faz com que acabemos por produzir menos hormônios, o que pode indicar a falência ovariana, o fim da idade reprodutiva. O cérebro, então, turbina a produção de FSH. A ideia, com isso, é obter uma resposta do ovário e estimulá-lo a produzir mais hormônios.
Então, quando o exame da tentante mostra o TSH alto, ela se preocupa porque sua reserva ovariana pode estar baixa. Para elas, trata-se de uma situação que gera bastante preocupação, afinal, não é possível recuperar os óvulos que já se esgotaram. Porém, é possível, com cuidados corretos, melhorar a qualidade dos óvulos e da ovulação e baixar o FSH, e isso é possível com uma mudança no estilo de vida.
3. Hiperestrogenismo
O estradiol é um hormônio que, produzido pelos ovários, pela glândula adrenal e pela placenta (neste caso, durante a gravidez), tem imenso impacto no bem-estar e na saúde da mulher, em todas as fases da sua vida. E o que o estradiol alto tem a ver com a infertilidade?
Bem, o estradiol é o antagonista da progesterona, ou seja, onde sobra estradiol, falta progesterona ou se cria uma resistência à progesterona. E, sem progesterona, não há gravidez. Portanto, quando o estradiol está muito alto (hiperestrogenismo), existe a dificuldade em engravidar. O tratamento inclui mudanças no estilo de vida e, em casos extremos, a adoção de implantes hormonais pode ser necessária.
4. Trombofilia
A trombofilia, de forma simplificada, é a formação de um coágulo que percorre a corrente sanguínea e, ao se deparar com um vaso mais estreito, o ‘entope’ causa a interrupção da passagem do fluxo sanguíneo. Essa condição pode ser bastante grave, porque o sangue carrega oxigênio e alimenta o organismo. Na obstetrícia, a trombofilia está ligada à morte placentária, que é quando o coágulo interrompe a alimentação do bebê porque bloqueou os vasos da placenta.
A trombofilia pode ser classificada como hereditária ou adquirida. No último caso, ela está ligada a um problema chamado de Síndrome Antifosfolípide (SAF), que altera os vasos do útero que deveriam ser responsáveis pela implantação do embrião. Para saber se há predisposição ao problema, é necessário fazer alguns exames laboratoriais. Neles, é feita a detecção dos anticorpos antifosfolípides.
No caso de exame positivo, a gestante ou tentante entra em um processo de tratamento preventivo. Essa é uma maneira de preservar tanto a mãe quanto o bebê que está por vir. Esse é um dos únicos quadros que, diretamente, independe da mudança do estilo de vida da paciente para que se obtenham ganhos consideráveis no tratamento.
5. Endometriose
A endometriose é uma inflamação sistêmica que pode interferir em diversas etapas do processo de fecundação e implantação do embrião. A doença também altera a anatomia do sistema reprodutor, já que pode estar presente nos ovários, tubas uterinas, útero e outros órgãos. Além disso, a inflamação sistêmica libera substâncias capazes de interferir no sistema imunológico, dificultando ainda mais todo o processo. O tratamento para a enfermidade é realizado através de excisão de hormônios ou cirurgias.
6. Síndrome do ovário policístico
Esse termo, conhecido por muitas mulheres, refere-se a um conjunto de sinais e sintomas da síndrome, que inclui cistos nos ovários. Mas não basta apresentar cistos para que uma mulher seja diagnosticada com SOP: para que se feche o quadro, é necessário que se apresentem alguns sintomas como:
- Menstruação irregular ou inexistente;
- Resistência à insulina ou diabetes;
- Pelos em locais pouco comuns do corpo (como costas e rosto);
- Manchas escuras pela pele;
- Problemas de pele e queda de cabelos.
O tratamento se inicia pela adoção de dieta e exercício físico. Não existe tratamento de SOP sem essas duas ‘estratégias’. Depois, se há resistência à insulina, o médico deve avaliar se existe a necessidade do uso de medicação para o quadro. Por fim, entra a suplementação e outras novidades nessa área.