O vício em drogas tem sido um tema amplamente debatido ao longo dos anos, despertando preocupação e atenção em diferentes contextos sociais. Esse problema afeta não apenas o indivíduo viciado – de qualquer idade, gênero ou classe social –, mas também suas famílias, amigos e a sociedade como um todo.
Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), nos últimos anos foram registrados 400 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool no Brasil. Porém, muito mais do que números, famílias são perdidas por causa deste problema que, apesar de parecer irreversível, pode, sim, ser tratado.
Impacto das drogas no funcionamento cerebral
De acordo com a psicóloga e especialista em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Vanessa Gebrim, o vício em drogas está ligado ao sistema de recompensas do nosso cérebro. “O principal mecanismo que desencadeia o vício é o sistema de recompensa cerebral junto à neuroadaptação. Nosso cérebro sofre alterações anatômicas quando viciado, assim como mudanças em seu funcionamento químico e na comunicação entre os neurônios, que está associada ao aprendizado. Isso é possível graças à plasticidade do cérebro. Assim, o vício transforma os circuitos neurais, reorganizando-os de forma a atribuir mais valor àquilo que lhe dá prazer”, explica a profissional.
Sintomas do vício em drogas
Para os familiares, para os amigos e para a pessoa viciada, pode ser difícil reconhecer um vício no início. Além disso, é comum o discurso de “posso parar quando quiser”. No entanto, ainda assim há alguns fatores que indicam que uma pessoa pode estar passando por uma adicção.
“Falta de motivação para estudar e trabalhar, mudanças no comportamento, irritabilidade, olhos vermelhos, muito tempo longe de casa ou perda de objetos de valor podem indicar o uso desenfreado de psicoativos”, enumera a psicóloga.
Ausência da droga
Os piores efeitos, contudo, estão na pessoa que está passando por esse momento, que vão precisar de uma rede de apoio e ajuda para lidar com as consequências. “O indivíduo apresenta sintomas físicos diante da abstinência da substância química. Por outro lado, a dependência psicológica refere-se a um estado de mal-estar que se manifesta após a pessoa interromper o uso de uma droga”, revela a especialista.
Sendo assim, conforme explica Vanessa Gebrim, a ausência de determinada substância promove uma reação negativa no cérebro. “Quando uma pessoa está sob o efeito da droga acontece uma diminuição da tensão, da ansiedade, elevação da euforia e outras sensações agradáveis. Porém, o cérebro condiciona esses efeitos à presença da substância no organismo.”
Efeitos na vida social e profissional
A vida social e profissional do usuário de drogas pode ser afetada profundamente. “Vários são os impactos no desempenho profissional. Os mais comuns são: perda da qualidade de trabalho e diminuição da produtividade; e outros impactos na vida pessoal e social como o descontrole emocional, menor capacidade de raciocínio e concentração, destruição dos neurônios, que diminuem a capacidade de pensar e realizar atividades, desenvolvimento de doenças psiquiátricas, como depressão ou esquizofrenia e isolamento da família e sociedade”, diz Vanessa Gebrim.
Persistência para o tratamento
O trajeto para passar pelo tratamento contra as drogas é longo, mas possível. É necessária muita força para ficar longe dos estímulos e evitar recaídas. “A dependência química é considerada uma doença crônica, progressiva, sem cura, porém, tratável. Apesar da possibilidade de tratamento, a recaída durante o período de recuperação pode atingir de 40% a 60% dos pacientes. O dependente químico precisa de uma fase terapêutica contínua, a qual proporcionará resultados a longo prazo”, conta a especialista.
Importância da rede de apoio
Além do esforço do paciente, é essencial que o círculo social também esteja engajado em reverter o quadro. Quanto mais cedo medidas forem tomadas, melhor. “Os familiares têm o papel de dar apoio, sem julgamentos, e ajudar o paciente na sua reabilitação. No entanto, há casos em que a família pode facilitar o tratamento ou prejudicá-lo — se for conivente com as ideias do dependente de burlar nesse processo, por exemplo. Também é fundamental que as pessoas saibam lidar com a codependência, ou seja, o desenvolvimento dos mesmos sintomas de quem sofre com o vício”, finaliza Vanessa Gebrim.
Por Maria Carolina Rossi