A depressão é uma doença mental crônica que afeta diversas pessoas no mundo. Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) apontou que, somente no Brasil, cerca 11,7 milhões de pessoas sofrem com o transtorno.
Apesar disso, os números não quantificam os impactos da enfermidade socialmente, o que revelaria traços além daqueles que a enfrentam, como familiares, amigos e colegas, os quais também são afetados pela tristeza e desesperança da condição.
Isso porque, quando um amigo ou parente enfrenta esse desafio, são exatamente essas pessoas que se dispõem a ajudar. Contudo, muitos não compreendem ser necessário entender a essência do distúrbio para também não se deixar levar pelo sentimento, que pode gerar a chamada “fadiga da compaixão” ou “esgotamento empático”.
Pensando nisso, Larissa Fonseca, psicóloga e terapeuta clínica com abordagem cognitiva e comportamental, elenca 10 maneiras de ajudar pessoas com depressão de maneira responsável. Confira!
1. Esteja atento aos sinais
Antes de tudo, para auxiliar alguém com depressão, é preciso ter um olhar analítico para identificar as mudanças de comportamento, que, quando não observadas, passam despercebidas. Entre alguns dos sinais, a psicóloga sinaliza:
- Mudanças de humor;
- Alterações nos padrões de sono;
- Mudanças no apetite;
- Isolamento social;
- Persistente fadiga;
- Dificuldade de concentração;
- Sentimentos de desesperança;
- Baixa autoestima;
- Comportamentos autodestrutivos;
- Expressões dos pensamentos sobre a vida não ter sentido.
“Ao identificar esses sinais, o crucial é incentivar e acompanhar a busca por ajuda profissional; na maioria das vezes, esses sinais fazem com que a pessoa não tenha forças para buscar ajuda”, reforça.
2. Aborde o assunto de forma empática
De acordo com Larissa Fonseca, em situações em que o paciente não aceita a própria condição ou evita falar sobre o assunto, é importante que parentes e amigos abordem o tema com exemplos. “Demonstre situações de sofrimento com o mesmo diagnóstico e reforce que [a depressão] é uma doença que requer tratamento”, recomenda.
“Iniciar a conversa com empatia, expressar preocupação pelo bem-estar e compartilhar informações sobre a doença de maneira educativa podem ser abordagens eficazes. Inclusive, [é possível] oferecer suporte para ir a uma consulta ou auxiliar no tratamento”, completa a profissional.
3. Ofereça apoio
Demonstrar apoio, mesmo que só ficando do lado, pode até parecer pouco, mas, para os pacientes com depressão, é o suficiente para motivá-los em sua jornada de recuperação. Isso porque a doença faz com que as pessoas se sintam isoladas.
“Muitas vezes, o deprimido questiona sua possibilidade de melhora e ser incentivado ao tratamento é o que torna menos doloroso vivenciar o dia a dia com o diagnóstico. Pessoas que entendem como é a depressão sabem que há um estigma, o transtorno é uma doença e necessita de medicação para reequilíbrio neuroquímico dos neurotransmissores e psicoterapia para técnicas de enfrentamento e reconhecimento”, explica a especialista.
4. Respeite o tempo do paciente
Mesmo com a preocupação, tente não ser invasivo. Isso pode afastar a pessoa e fazer com que ela se feche para o diálogo. Logo, respeite o seu tempo e busque se aproximar aos poucos. Uma forma para isso, segundo a psicóloga, é ir lembrando o paciente que, em um dia, ele já esteve feliz e que pode voltar a ser assim.
“Estratégias eficazes incluem demonstrar compreensão, expressar preocupação de maneira não intrusiva, criar um ambiente acolhedor que favoreça o compartilhamento emocional por meio de perguntas interessadas na própria pessoa e promover abertura para conversas. Reconhecer os limites pessoais do indivíduo deprimido é fundamental, respeitando seu espaço enquanto se oferece apoio significativo”, esclarece a terapeuta clínica.
5. Ouça mais e julgue menos
Ouvir é uma das formas mais eficazes de demonstrar que você se importa com o outro e está disposto a compreender o que ele está sentindo, pois isso faz com que a pessoa se sinta acolhida. Por isso, tente sempre estabelecer um diálogo saudável sem comentários do tipo “você está exagerando” ou “tenta melhorar”.
“Poder oferecer um espaço seguro para expressão emocional envolve deixar a pessoa falar sem dar conselhos que pode piorar ainda mais a depressão. O julgamento atrapalha ainda mais o diagnóstico, pois a pessoa sente-se inadequada em falar sobre as próprias angústias e aumenta a ‘pressão na panela'”, orienta a psicóloga.
6. Demonstre que a pessoa é importante
Algumas pessoas com depressão podem apresentar o sentimento de fracasso e inutilidade ou, ainda, que não fazem falta para ninguém. Para evitar isso, a psicóloga orienta: “A aplicação da técnica da reestruturação cognitiva, destacando conquistas passadas e habilidades pessoais, pode ser uma abordagem eficaz para promover uma visão mais positiva de si”.
A profissional continua: “Além disso, o uso de reforço positivo, ao reconhecer suas contribuições para relações interpessoais e suas realizações individuais, pode fortalecer significativamente a autoestima desses pacientes. Essas estratégias, orientadas pelo entendimento psicológico, têm o potencial de impactar positivamente a perspectiva e o bem-estar emocional dos indivíduos em processo de recuperação”.
7. Não ignore comentários de suicídio
Os comentários de suicídio são um incômodo para quem está ouvindo, mas um claro sinal de alerta que não deve ser ignorado ou relativizado. Isso porque essas expressões podem indicar um profundo sofrimento emocional e um risco real à vida da pessoa.
“Em situações delicadas de comentários suicidas, é imperativo permitir que a pessoa fale mais sobre o assunto […] permitir que a pessoa fale mais com perguntas que demonstre interesse por ela e pelos pensamentos pode salvar uma vida. Encoraje ativamente o tratamento e forneça contatos de urgência como o Centro de Valorização da Vida (CVV) através do telefone 188″, diz Larissa Fonseca.
Ela também recomenda: “Evite prometer manter segredos e ofereça suporte para contar para pessoas de emergência como familiares próximos. A segurança da pessoa é a prioridade absoluta, e a intervenção profissional é essencial para lidar com pensamentos suicidas de forma adequada”.
8. Incentive a busca por um profissional
A conversa e o acolhimento são essenciais, mas muitas vezes o paciente também precisa utilizar antidepressivos para se recuperar. Assim, é fundamental que as pessoas ao redor estimulem na prática a procura por um profissional e, segundo a especialista, reforcem positivamente a coragem do paciente para enfrentar a depressão.
“Isso envolve, algumas vezes, oferecer ajuda para encontrar e até acompanhá-lo ao longo do tratamento, demonstrando presença, interesse e mostrando que é muito positivo a iniciativa para melhorar. Recaídas farão parte do processo; portanto, quem acompanha não deve desistir da pessoa em hipótese alguma, tampouco irritar-se quando a pessoa não estiver motivada ao tratamento”, afirma a psicóloga.
9. Estimule a prática de exercícios físicos
Diversas pesquisas apontam que a prática de exercício físico regularmente pode reduzir os sintomas da depressão. Isso porque as atividades liberam endorfinas, substâncias químicas no cérebro que atuam como analgésicos naturais e promovem sensação de bem-estar.
“Além disso, a prática de exercícios contribui para a melhoria da qualidade do sono, o aumento dos níveis de energia e proporciona um senso de realização, tornando-se uma estratégia valiosa no contexto do tratamento da depressão. A incorporação regular de atividades físicas pode ter impactos positivos significativos na saúde mental e no processo de recuperação”, diz a profissional.
10. Busque suporte emocional
Segundo Larissa Fonseca, é natural se sobrecarregar na ajuda a pessoas com depressão e, por isso, buscar suporte emocional e tratamento psicológico torna-se fundamental para não ficar também com essa visão de vida.
“Pessoas com depressão provocam desgaste emocional e tristeza em quem está ao redor. São pessoas negativas que acabam contaminando com sua visão negativista da vida. Por isso que quem o [paciente depressivo] cerca deve estar em tratamento para si e para conseguir oferecer suporte. Reconhecer a própria necessidade de suporte e buscar recursos adequados é uma abordagem vital para preservar o bem-estar emocional daqueles que assumem o papel de apoiadores”, conclui a psicóloga.