As redes sociais têm conquistado cada vez mais espaço quando o assunto é beleza e, com diversas influenciadoras produzindo conteúdo sobre o assunto, tornaram-se uma nova tendência de consumo. Por consequência, também ampliaram o acesso e a exposição a diferentes imagens, criando percepções distorcidas no público sobre a própria aparência.
De acordo com um estudo publicado na plataforma PubMed, em 2019, o uso de aplicativos de vídeo, filtros e edição de fotos está associado à baixa autoestima. A pesquisa também concluiu que esses mesmos tipos de redes (além de aplicativos de relacionamento) ampliam a busca por procedimentos estéticos.
“Estudos mostram que pessoas que consomem conteúdos relacionados à beleza e a procedimentos estéticos estão mais suscetíveis a fazer tratamentos. Mas isso também tem outro lado, pode haver menor questionamento da real necessidade e, eventualmente, uma maior taxa de insatisfação”, diz o cirurgião plástico Matheus Manica.
Influências das redes sociais
De acordo com um artigo publicado (2021) na revista Current Psychology, mulheres entre 18 e 29 anos que passam maior tempo nas redes sociais e seguem um número maior de influenciadoras que passaram por procedimentos são mais suscetíveis a realizar tais intervenções.
Para Matheus Manica, isso acontece porque pode haver dificuldade de alinhamento entre expectativa e realidade quando pessoas que já foram muito expostas a esse tipo de conteúdo buscam realizar algum procedimento. Ele explica que essa parcela de pacientes deseja o mesmo resultado sem considerar que seu corpo é diferente e que seu organismo responde de outra forma às intervenções.
“Por consumirem muito, essas pessoas se espelham em influenciadoras e celebridades, idealizando o que de fato o tratamento pode fazer. E existem limitações técnicas e fisiológicas que determinam os resultados, o mesmo procedimento em pessoas diferentes vai ter resultados distintos”, afirma Matheus Manica.
Conteúdos podem gerar desinformação
Atualmente, os pacientes chegam às clínicas mais informados e com demandas específicas. O relatório The Future of Aesthetics 2023, publicado pela Allergan Aesthetics, destaca que isso é resultado da disseminação de conteúdos nas redes sociais sobre procedimentos, cirurgias e ativos presentes em cosméticos. No entanto, os conteúdos podem, em vez de compartilhar informação, espalhar desinformação com dicas perigosas ou sem comprovação científica.
Médicos ajudam a alinhar expectativas
Segundo Matheus Manica, o primeiro desafio na avaliação de um paciente é justamente o de alinhamento de expectativas. Em casos que se espera ter um ganho além do estético, o médico aponta que pode ser uma expectativa irreal ou, até mesmo, sinal de dismorfia.
“Por mais que um tratamento seja bom, ele não vai resolver a questão psíquica de base. Não vai ‘salvar’ um relacionamento nem melhorar a vida social do paciente. São casos em que é importante não fazer o tratamento ou a cirurgia e, dependendo, pode ser interessante uma avaliação com o psiquiatra (o que nem sempre é bem aceito). Às vezes, pode ser algo que o paciente está dando uma importância maior do que deveria”, finaliza o profissional.
Por Carla Gullo