Mulheres, impulsionadas por metas profissionais e pessoais, estão optando por adiar a maternidade para fases mais maduras da vida. Com avanços na medicina reprodutiva, essa decisão se torna cada vez mais viável, permitindo que a gestação seja planejada para um momento considerado ideal.
“Naturalmente, com a correria e a inserção cada vez maior da mulher no mundo profissional, surgiram uma grande procura e intenção de congelar óvulos, principalmente pelo fato de as mulheres quererem engravidar cada vez mais tarde”, explica o Dr. Alfonso Massaguer, ginecologista especialista em Reprodução Humana Diretor Clínico da MAE (Medicina de Atendimento Especializado).
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam uma queda de 13% na taxa de fecundidade total das mulheres brasileiras entre 2018 e 2023. Por outro lado, observa-se um aumento de 16,8% na taxa de fecundidade entre mulheres com mais de 40 anos. Ainda, pesquisas do DATASUS indicam um crescimento de 46% no número de mães na faixa etária de 35 a 39 anos ao longo de 13 anos.
“Nos últimos anos, o congelamento de óvulos vem possibilitando a preservação da fertilidade e o planejamento da gestação com maior segurança e no momento de vida ideal para as mulheres que desejem ou necessitem adiar a maternidade“, analisa a Dra. Paula Beatriz Fettback, ginecologista especialista em Reprodução Humana pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
A seguir, os ginecologistas revelam detalhes do procedimento.
1. Para quem o congelamento de óvulos é indicado?
O tema envolve diversas camadas sociais. “Inicialmente, a técnica foi desenvolvida para pacientes oncológicas, objetivando maior confiança ao futuro reprodutivo de mulheres jovens ou sem filhos antes dos tratamentos de quimioterapia ou radioterapia”, contextualiza a Dra. Paula. Segundo ela, o procedimento também era bastante indicado para mulheres com risco de falência ovariana precoce.
“Hoje, ele envolve toda a questão social e cultural, como a liberdade de escolha, a igualdade de gênero, as mudanças nos padrões de vida e de relacionamentos e o impacto nas relações familiares”, define a médica.
2. Há idade limite para o congelamento?
Segundo a Dra. Paula, não há limite definido para o congelamento de óvulos, e toda mulher que ainda ovula, ou seja, menstrua naturalmente, pode congelar seus óvulos. Independentemente da idade, seja ela solteira ou não, se for o desejo da mulher, ela tem o direito de realizar o congelamento.
“No entanto, o importante é que ela receba as informações adequadas das verdadeiras chances de sucesso de acordo com a idade dela e o número de óvulos congelados, para desta forma tomar sua decisão”, enfatiza. Ainda conforme a médica, a literatura especializada diz que as chances de gestação futura estão ligadas com a idade da mulher que teve o óvulo congelado, sendo até 35 anos considerada o ideal.
3. Como é o procedimento?
O procedimento para o congelamento de óvulos pode variar de mulher para mulher. “Atualmente, existem muitas técnicas de congelar óvulos, porém a vitrificação é a mais comum, com sobrevivência de 95% no descongelamento”, conta o Dr. Alfonso. No geral, o médico explica que as etapas são as seguintes:
- Indução de ovulação;
- Coleta;
- Maturação em laboratório;
- Congelamento.
4. Tem prazo para fazer o descongelamento?
Os especialistas informam que os óvulos podem seguir congelados por tempo indeterminado, e que até mesmo uma mulher já em menopausa pode passar pela gestação. “Por outro lado, o Conselho Federal de Medicina recomenda que a fertilização in vitro seja realizada até no máximo 50 anos de idade, para evitar riscos na gravidez”, aponta o Dr. Alfonso. Ainda segundo o médico, mesmo que a utilização desses óvulos ocorra aos 45 anos, ainda haverá uma taxa de 60% de sucesso.
5. Qual o investimento necessário?
O Dr. Alfonso estima que o processo gire em torno de R$ 10 mil a R$ 20 mil hoje em dia, considerando as medicações para a estimulação hormonal, até a coleta e o congelamento de fato. “Agora vale ressaltar que, além dos custos relacionados ao procedimento, em si, há um custo adicional da manutenção do material coletado, que fica cerca de R$ 1.200,00 por ano”, acrescenta o médico. O ginecologista ainda aponta a importância de avaliar os custos dos procedimentos de descongelamento e de fertilização.
6. Há efeitos colaterais resultantes do processo?
De acordo com a Dra. Paula, a estimulação hormonal do início pode causar retenção hídrica, aumentando o peso, eventualmente, de 1 a 2 kg, eliminados após a queda no nível hormonal. Fora isso, ela explica que podem ocorrer desconfortos abdominais, dores de cabeça, acne leve e instabilidade emocional, também durante o processo hormonal. “Depois de um ciclo menstrual natural, os efeitos tendem a passar”, tranquiliza a ginecologista.
Por Michelly Souza