Em alguns casos, pode ser considerado normal a mulher sentir dor na primeira relação sexual, uma vez que o nervosismo e a tensão da chamada “primeira vez” influenciam o momento da penetração. Mas, passada a primeira relação sexual, é preciso ficar em alerta caso o incômodo persista. O vaginismo é um assunto pouco conhecido. Por isso, é comum mulheres passarem pela disfunção e não a reconhecerem.
O que é o vaginismo?
Conforme Teresa Embiruçu, ginecologista e especialista em sexologia e obstetrícia, o vaginismo é uma contração involuntária dos músculos do assoalho pélvico (músculos que estão ao redor da vagina). Isso impede a entrada de pênis, dedo ou qualquer outro objeto na vagina, por mais que esta seja a vontade da mulher.
A ginecologista ainda explica que a disfunção, na maioria das vezes, pode ocorrer na primeira relação sexual (vaginismo primário). Contudo, também pode atingir uma parcela de mulheres que já praticavam atividades sexuais e consideravam o ato prazeroso, mas começaram a sentir o incômodo no momento da penetração (vaginismo secundário).
Possíveis causas do vaginismo
As causas do vaginismo podem ser múltiplas. Por isso, é difícil definir um motivo exato. Teresa Embiruçu explica que é preciso observar diversos pontos da construção sexual feminina para entender o que pode estar causando a disfunção, como: o que ouviu sobre a primeira vez, como aprendeu, expectativas ao iniciar a vida sexual e fatores religiosos, como ver o ato como algo errado, sujo e pecaminoso.
“Sempre vamos olhar para vários pontos, como: se a educação em casa foi muito castradora e proibitiva, se passou por violência psicológica ou sexual, se tem algum antecedente de problema de saúde ginecológico (por exemplo, líquen vulvar), se tem outras doenças de dor crônica associadas (por exemplo, fibromialgia), se tem uma personalidade controladora, hipervigilante e se a pessoa é ansiosa”, lista a ginecologista.
Sinais que apontam para o vaginismo
O principal sinal de alerta para o vaginismo são as fortes dores e o desconforto no momento da penetração. Contudo, Teresa Embiruçu faz um alerta para o medo e a fobia, que podem acontecer desde a aproximação, o toque na vulva até a dificuldade de ter penetração vaginal. “[O vaginismo] é descrito como uma dor sexual, dor na relação, dor na penetração ou, mais tecnicamente, dor genito-pélvica”, explica a especialista.
De acordo com a ginecologista, ainda existe uma outra situação que se assemelha ao vaginismo, que é quando a mulher até consegue ter a penetração vaginal, mas sente ardência, incômodo e dor. “É como se tivesse entrando uma faca, descrita como vulvodínia. A vulvodínia já seria mais uma dor localizada na mucosa vulvar que impede ou dificulta a penetração”.
Diagnóstico do problema
O vaginismo pode ocorrer em qualquer idade. Por esse motivo, é preciso atenção aos sinais, bem como realizar o diagnóstico clínico – que, de acordo com Teresa Embiruçu, pode ocorrer por meio de uma conversa bem detalhada com o médico ginecologista, clínico geral ou psiquiatra e por meio do exame físico, da inspeção da mucosa e da avaliação da musculatura pélvica. “É necessário afastar se não existem outras causas que justifiquem a dor”, explica a ginecologista.
Existe tratamento?
O tratamento para a disfunção consiste em fazer com que a mulher consiga relaxar a musculatura e dessensibilizar os músculos da vagina ao toque e à penetração. Normalmente, isso é realizado por ginecologistas com o apoio de psicólogos e profissionais especializados na saúde sexual da mulher.
De acordo com a ginecologista Teresa Embiruçu, podem ser indicadas medicações para dor crônica, quando ela é localizada na mucosa vulvar, além do uso de ansiolíticos e técnicas para trabalhar o foco. Ela também ressalta que alguns estudos mais recentes falam ainda da melhora com uso de laser vaginal de CO2 e aplicação de toxina botulínica.
“A abordagem psicológica também é essencial para trabalhar as crenças errôneas e ressignificar alguns momentos dessa construção da sexualidade. Mas o tratamento vai depender não apenas de profissionais qualificados para ajudar e dar as ferramentas necessárias, como também do empenho e da motivação da própria pessoa em melhorar. Porque o tratamento é um processo, não tem tempo certo, não tem remédio que se toma e se cura”, explica Teresa Embiruçu.
O tabu sobre a sexualidade feminina
A falta de conhecimento sobre a sexualidade feminina e, até mesmo, as vivências traumáticas também podem influenciar para que o vaginismo ocorra. Teresa Embiruçu explica que o ensino sobre sexualidade, muitas vezes, gira em torno de uma visão negativa e que a pessoa cresce com medo da relação sexual.
“O aprendizado sobre a sexualidade nas escolas gira em torno do ensino sobre não engravidar e como não pegar infecções sexualmente transmissíveis. Ao iniciar a vida sexual, se ouve que a primeira vez sangra, dói, machuca e rompe o hímen. Sempre uma visão muito negativa sobre o ato sexual. Sem falar na questão da ‘perda da virgindade’, como se fosse perder algo que nunca mais fosse possível ser achado”, afirma Teresa Embiruçu.
Consequências do vaginismo
A ginecologista esclarece que uma pessoa com vaginismo pode ter desejo sexual, se sentir excitada, chegar ao orgasmo, com o estímulo na vulva e no clítoris, e ter uma resposta sexual satisfatória. Entretanto, uma das queixas comuns dessas mulheres é que se sentem incompletas ou, ainda, que se sentem menos “mulher” por faltar a penetração vaginal. Além disso, há a expectativa de estar em falta ou devendo algo ao parceiro sexual.
“Uma outra frustração comumente relatada por pessoas com vaginismo é a dificuldade de engravidar naturalmente. Geralmente é quando o relacionamento não vai bem ou quando chega essa vontade de engravidar que a pessoa procura ajuda”, completa Teresa Embiruçu. Por isso, em todo caso, é indicado procurar ajuda médica.