Veja como a maternidade pode afetar a saúde mental das mulheres
A semana do Dia das Mães é sempre uma ótima oportunidade para falarmos de assuntos que permeiam a maternidade. Muito mais do que apenas dar à luz, ser mãe é muitas vezes abdicar de si para cuidar de uma nova vida que chega ao mundo. O problema é que nem todas as mães, quando dão à luz, estão emocionalmente estáveis para exercer a maternagem.
A psiquiatra Dra. Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental, explica que a maternidade é algo bem mais trabalhoso e exige estabilidade de humor para tal. Na natureza, é possível perceber o que é uma maternagem amorosa, calma, dedicada e afetiva. A mãe emocionalmente estável consegue olhar nos olhos, abraçar, aquecer, dar carinho e sorrir para a prole. A prole em desenvolvimento, por sua vez, quando recebe estes estímulos de maternagem, ativa áreas emocionais que serão importantes para quando, no futuro, precisar lidar adequadamente com emoções positivas ou negativas”, diz a médica.
O impacto da saúde maternal na vida da criança
Assim como na natureza animal, a estabilidade da mãe na gestação, amamentação e nos primeiros anos de vida de uma criança é muito importante para a estabilidade emocional da criança quando se tornar adulta. “Muitas mães não são alertadas de que estar estressadas, deprimidas, irritadas, frias e insensíveis no período do pós-parto e nos anos iniciais de criação da prole pode afetar seus filhos profundamente”, alerta a psiquiatra.
Nesse sentido, o afeto e o carinho são fundamentais na primeira infância, e os reflexos são vistos na vida adulta, tanto no aspecto positivo quanto no negativo. Sendo assim, aquelas mães que não se sentem bem emocionalmente após a gestação precisam ser acolhidas e auxiliadas. “Nenhuma mãe é biologicamente agressiva com a prole sem estar doente. Elas [as mães] precisam de ajuda, pois passam por alterações fisiológicas que afetam diretamente a saúde emocional”, fala a médica.
Como a gestação afeta os hormônios
A médica psiquiatra Dra. Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental, fala das diferentes fases da maternidade e como isso pode afetar a mente.
Gravidez
A progesterona e o estrogênio — hormônios femininos que regulam o ciclo reprodutivo — são parcialmente responsáveis pelas grandes alterações de humor durante a gestação. É mais ou menos como uma TPM gigante.
Mesmo quando a gravidez é bem planejada, muitas mães se veem tomadas por preocupações em relação ao futuro, ao relacionamento com o parceiro ou às responsabilidades financeiras que vão aumentar. Alguns efeitos físicos da gestação, como azia, cansaço e vontade frequente de fazer xixi, também acabam mexendo mais com suas emoções. O enjoo, para piorar, acaba com um dos prazeres da vida, que é o de comer alguma coisa gostosa.
Os altos e baixos no humor costumam ser mais pronunciados nas 12 primeiras semanas da gravidez. Eles tendem a diminuir à medida que o corpo se adapta ao bombardeio hormonal a que é submetido. Mas, no finalzinho da gravidez, com a ansiedade da aproximação do parto, a sensibilidade também pode aumentar.
Pós-parto
Na mesma proporção em que os níveis de estrógeno caem abruptamente nos três a quatro dias após o nascimento do bebê, existe um aumento da enzima monoamina oxidase A (MAO-A) no cérebro. A enzima quebra os neurotransmissores serotonina, dopamina e noradrenalina, que, além de serem responsáveis por transmitir os sinais entre as células nervosas, também influenciam o humor.
Neste caso, se o funcionamento dos neurotransmissores é afetado, a pessoa inicialmente se sente triste e, após certo tempo, corre o risco de ficar deprimida. Os níveis mais altos foram registrados no quinto dia após o parto, coincidindo com o dia em que o humor das mães está no ponto mais baixo.
Depressão pós-parto
A depressão pós-parto é um transtorno que se caracteriza por sintomas semelhantes aos da depressão comum: estado de humor rebaixado, pouca vontade de sair de casa, isolamento social, tristeza intensa e frequente, apetite e sono alterados. A diferença, no entanto, é que, na depressão pós-parto, esses sintomas aparecem na mãe, entre um mês e um ano após o nascimento da criança.
A médica fala que muitas novas mães experimentam alterações de humor e crises de choro após o parto, mas que desaparecem rapidamente. “Isso acontece, principalmente, devido às alterações hormonais decorrentes do término da gravidez. No entanto, algumas mães experimentam esses sintomas com mais intensidade, dando origem à depressão pós-parto”, afirma.
A psiquiatra ressalta que a depressão pós-parto não é uma falha de caráter ou uma fraqueza. “A mulher que sofre depressão pós-parto tem que passar por tratamento imediato”, alerta.
Algumas causas da depressão pós-parto
Para entender mais sobre o transtorno e como ele afeta a saúde física e mental da mulher, a Dra. Jéssica listou abaixo algumas possíveis causas.
Causas biológicas
Após o parto, ocorre uma queda dramática nos hormônios estrogênio e progesterona, e essas mudanças por si só podem contribuir para um quadro de depressão pós-parto. Outros hormônios produzidos pela glândula tireoide também podem cair bruscamente – o que pode aumentar o cansaço e a sensação de tristeza. Ainda, transformações no seu volume de sangue, pressão arterial, sistema imunológico e metabolismo podem contribuir para fadiga e alterações de humor.
Causas emocionais
Quando o ser humano está privado de sono e sofrendo algum tipo de estresse ou pressão psicológica, pode ter problemas para lidar com situações do dia a dia. A mulher também pode se sentir menos atraente ou sentir que perdeu o controle sobre sua vida; pode surgir uma preocupação com a própria capacidade de educar um recém-nascido e ansiedade em prover uma boa vida para a criança. Qualquer um desses fatores pode contribuir para a depressão pós-parto.
Causas situacionais
Muitos fatores de estilo de vida podem levar à depressão pós-parto: dificuldade de amamentação, filhos mais velhos com ciúmes, problemas financeiros, falta de apoio do parceiro ou de outros familiares. A médica conta que tudo isso pode levar ao burnout materno, e os sinais como tristeza ou desespero constante, perda de interesse nas atividades diárias, perda ou ganho de peso, ausência de sono, inquietação ou indisposição, cansaço e ansiedade descontrolada já podem ser até sintomas de depressão.
“Se não for tratada, a depressão pós-parto pode interferir além do vínculo materno e ainda deixar os filhos propensos a ter problemas de comportamento, atrasos no desenvolvimento e até hiperatividade no futuro”, diz a médica, que acrescenta “o tratamento precisa ser procurado e, muitas vezes, pode ser simples apenas com ajuda de medicamentos farmacológicos com antidepressivos, psicoterapia e mudanças no estilo de vida”, finaliza.
Por Mayra Barreto Cinel