É bastante comum enfrentar dificuldades ao sair da cama pela manhã, lutando contra o despertador várias vezes, ou perceber uma queda no desempenho durante as atividades no final da tarde. Monica Machado, psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C, especializada em psicanálise e saúde mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, explica que a maneira como o corpo reage aos estímulos externos é influenciada pela hora do dia e pelas características de cada pessoa.
“Há quem se sinta mais produtivo durante a noite, quem goste de acordar cedo e, até mesmo, quem prefira realizar suas atividades durante a madrugada. Essa variação pode ser explicada por meio do biorritmo. Entender esse conceito ajuda a orientar sua rotina e garantir um rendimento melhor em suas tarefas”, explica a profissional.
O que é biorritmo?
O conceito de biorritmo começou a ser estudado por volta de 1870, primeiramente pelo Dr. Wilhelm Fliess, na Academia de Ciências de Berlim, seguido por Hermann Swoboda, psicólogo e professor na Universidade de Viena (Áustria), em 1897.
A junção dos estudos de ambos os cientistas permitiu determinar um ciclo físico de 23 dias e um ciclo emocional de 28 dias. Posteriormente, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, se interessou pelo assunto e deu sua colaboração para o processo, determinando também um ciclo intelectual, que teria duração de 33 dias.
Os ciclos podem ser divididos por dias positivos e negativos. No ciclo físico, são afetados aspectos corporais como músculos, imunidade e digestão. No emocional, por sua vez, pontos relacionados à criatividade, saúde mental, humor e sensibilidade. No ciclo intelectual, são afetados memória, raciocínio, reflexos, concentração e agilidade.
Importância de entender o próprio biorritmo
Segundo a psicóloga Monica Machado, na prática, o biorritmo é como o relógio biológico. De acordo com os horários que você dorme e acorda, é possível determinar em quais momentos do dia terá mais produtividade.
“Se você costuma acordar cedo, terá dois picos de concentração: durante a metade da manhã e algum tempo depois do almoço. Ou seja, ao conhecer os ciclos do seu organismo e entender seu biorritmo, você pode adequar suas tarefas aos horários de maior rendimento”, acrescenta.
Ajustando o biorritmo
Apesar de já ser definido geneticamente, o biorritmo pode ser ajustado conforme o estilo de vida da pessoa. No entanto, alguns hábitos podem dificultar que seu organismo restabeleça as funções fisiológicas, como não ter regularidade no sono.
Para mudar seu biorritmo, o primeiro passo é adotar a prática de atividade física regular. De acordo com Monica Machado, ao trabalhar a musculatura, o ciclo físico é afetado positivamente, impulsionando os dias em que você estará mais disposto.
“Vale lembrar que não é aconselhável realizar exercícios pouco antes de dormir, já que, durante a noite, o corpo está se preparando para uma pausa nas atividades, e os exercícios podem criar uma agitação que atrapalha o sono. Por isso, o ideal é se exercitar pela manhã ou à tarde, de preferência, em um horário fixo, para que o organismo identifique um ritmo em suas atividades”, explica.
Equilíbrio na alimentação é fundamental
Comer de forma correta também é um ponto crucial para manter as funções corporais reguladas. Nesse quesito, a dica é evitar alimentos com alto nível de sódio e muito calóricos, principalmente os ricos em gordura que, em excesso, podem causar problemas nas artérias e no cérebro e provocar doenças como diabetes e obesidade.
Outro ponto é ter atenção aos horários de sua alimentação, criando uma rotina para as refeições. “Tome cuidado com o que você come antes de dormir. O excesso de açúcar, por exemplo, pode liberar hormônios como a adrenalina, desregulando o sono. À noite, aposte em refeições leves e de fácil digestão”, pontua a psicóloga.
Estabeleça horários para dormir e acordar
Quando você cria regularidade na hora de dormir e acordar, o relógio biológico tende a funcionar melhor. O ideal é dormir mais cedo para, consequentemente, acordar cedo, até porque a vida contemporânea exige que as pessoas estejam ativas no “horário comercial”.
“Para quem é notívago, pode ser um tormento trabalhar este processo, mas não é impossível. Comece acordando uma hora mais cedo na primeira semana e reduza mais uma hora na semana seguinte. Seguindo esse esquema, seu horário de dormir poderá ser regulado automaticamente, já que você começa a sentir sono mais cedo”, recomenda a profissional.
Segundo a psicóloga, trabalhar seu biorritmo é fundamental para a melhoria de vida em diversos contextos. “Adotar novos hábitos irá te conduzir a uma rotina mais produtiva e menos estressante. Se você não conseguir realizar estas mudanças sozinho, não hesite em procurar um especialista. A ajuda profissional pode ser extremamente incentivadora para essa reviravolta na sua vida”, finaliza Monica Machado.
Por Flávia Vargas Ghiurghi