Entenda a força que existe na fragilidade
Estava completando 47. Isso foi há três anos. Postei uma foto com os filhos e outra só minha. Cabelos longos, olhos distantes, sorriso discreto, mas ainda assim um sorriso. Enquanto várias pessoas se atinham a me dar parabéns, uma amiga, dessas que conhecem alguns dos meus labirintos internos, escreveu: “O que está acontecendo? Você está triste”. Estava. Profundamente triste e me sentindo sozinha.
O casamento estava desabando e me encontrava no meio dos escombros. Imóvel, sem saber como me mexer para sair dali. Contudo, essa versão, desastrosa, parecia não ser feita para dividir, expor. Somente aqueles que sabem olhar, de verdade, conseguiam reconhecer as rachaduras típicas dos desastres. A amiga é fotógrafa, das boas. E isso diz muito.
Demonstrar fragilidade é ato de coragem
Corta a cena. Recebo a mensagem de uma pessoa falando sobre confusão, afundamento. De si. Não era algo que, até então, pudesse supor. Sempre feliz nas fotos compartilhadas. Parecia tudo bem. Mas não está. Não está. Penso em mim, nela. Conforme vamos conversamos, percebo a dificuldade que ela tem de colocar a fragilidade na vitrine. Não somos diferentes. Eu também não consigo. Compartilhar fragilidade é para quem tem coragem. De viver. Isso porque, primeiro, precisamos reconhecê-la, abraçar e colocar no colo. Aceitação. De quem somos. Caminho difícil. Pedregoso. De encarar nossos enganos.
Fragilidade e força andam juntas
Corta a cena. Volto para a fotografia dos meus 47. Pouco tempo depois daquele retrato, procurei ajuda para sair do escombro, da paralisia e do sufocamento em que me encontrava. Muitas pedras ao redor, fios emaranhados, lugares secos e sem luz. Eu precisava de uma mão para me direcionar, porém sabendo que a escavação mais dura era minha.
Este, afinal, não é um texto sobre fragilidade, mas força. Nunca me encontrei em um lugar tão doloroso quanto aquele em que estive após a separação. Isso não tinha a ver com o amor, mas o oposto dele. E em todas as feridas que uma relação assim causa.
Aos poucos, percebi que a mesma energia colocada para retratar uma pretensa alegria era aquela de que necessitava para estar em movimento. A diferença está no direcionamento, se a utilizava para fingir estar tudo bem ou se para acolher minhas dores e enxergar a própria potência. Fragilidade e força também são parceiras. E ambas precisam da gente. Uma apoiando a outra para que possamos seguir inteiros. Pela vida.
Texto originalmente publicado na revista Vida Simples (Edição 249).
Por Ana Holanda
Jornalista, escritora e uma apaixonada pelas palavras. Trabalha com processos de condução de escrita para pessoas e empresas