Entenda como a medicina nuclear contribui para a luta contra o câncer
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama e o câncer de próstata são o segundo mais comum, respectivamente, entre mulheres e homens. Eles perdem apenas para a neoplasia de pele não melanoma (câncer de pele). Tais dados contribuem, anualmente, para o Outubro Rosa e o Novembro Azul, usados para disseminar informações e conscientizar sobre as doenças.
Com o reconhecimento prévio da doença, é possível conter o avanço das células cancerígenas e evitar que elas contaminem outras regiões do corpo, formando as chamadas metástases, estágio mais avançado do tumor. Assim, a medicina nuclear revela-se uma importante ferramenta de precisão e agilidade diagnóstica e terapêutica para esses tipos de câncer.
Exames para diagnosticar câncer de mama e próstata
Cintilografia
A cintilografia é um dos principais exames utilizados para detectar câncer de mama nas estruturas ósseas. “O câncer de mama é frequentemente um tumor que gosta de migrar para o osso e a medicina nuclear já vem atuando nesse rastreamento há muitos anos. O primeiro exame disponível para esse diagnóstico é a cintilografia óssea, que pode avaliar todo o esqueleto a partir de uma pequena quantidade de material radioativo injetada na paciente”, diz a Dra. Adelina Sanches, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN).
De acordo com a especialista, esse tipo de exame é eficaz e possui um bom custo-benefício para detectar a doença. “É um método seguro, barato, que tem cobertura pelo SUS [Sistema Único de Saúde] e é usado amplamente. A sua taxa de performance, ou seja, potencial de detectar lesões é da ordem de 85%”, acrescenta a Dra. Adelina Sanches.
Radiofármaco
Um radiofármaco (medicamento com átomos radioativos), que teve o desenvolvimento iniciado ainda em 2016 e aprovação da Anvisa em outubro de 2021, se destaca por ser o primeiro específico para o câncer de mama comercializado no Brasil. “Trata-se do Radiofes®, um traçador radioativo para receptores de estrógenos, situação presente em cerca de 80% das neoplasias [formação de massa anormal de tecido] de mama”, explica a Dra. Adelina Sanches.
Segundo ela, esse tipo de medicamento é muito vantajoso para a paciente. “Ter um traçador específico traz muitos ganhos, pois, se a paciente estiver com um câncer de mama e outro de pulmão, por exemplo, ele permite identificar se a metástase é decorrente da neoplasia de mama ou do pulmão. Isso ajuda muito na deflagração de terapias, muitas vezes até poupando a mulher de novas biópsias e novos procedimentos invasivos”, afirma a especialista.
Já a diretora da SBMN, salienta que o Radiofes®, tem papel importante na resolução dos chamados “dilemas clínicos”: “Apesar de não ser a ferramenta ideal para diagnóstico primário, tem um importante papel na resolução em várias situações que podem trazer dilemas ou cenários de incertezas clínicas, tais como definição de abordagem terapêutica em casos difíceis, avaliação de eficácia de tratamentos e investigação da expressão de receptores no tumor e em metástases (que pode ocorrer de modo heterogêneo). Tudo isso resulta em maior eficácia no tratamento das pacientes, e consequente melhoria na qualidade de vida destas, sem contar com a economia em termos de gastos com procedimentos médicos”, explica.
Tomografias por emissão de pósitrons
Outros exames da medicina nuclear que demonstram uma excelente performance para os cânceres de mama e de próstata são as tomografias por emissão de pósitrons (PET/CT) já consagradas – com FDG (análogo de glicose) e com PSMA (antígeno de membrana específico da próstata).
Para tumores muito avançados, é possível avaliar o corpo inteiro do paciente, demonstrando se ele está com a doença no pulmão, no fígado, em outros órgãos ou no próprio esqueleto. São exames que apresentam desempenho superior a cintilografia óssea.
“Para o caso de câncer de mama, temos o PET/CT com o FDG, que é um procedimento mais tradicional, que utiliza a glicose marcada com material radioativo. O papel do PET com FDG em câncer de mama vem ganhando crescente reconhecimento. Inclusive, estudos começam a apostar em redução da carga de tratamento nas pacientes que mostram excelentes sinais de resposta ao exame quando submetidas a algum tratamento”, a Dra. Adelina Sanches.
Ainda segundo a especialista, “para o câncer de próstata, novos radiofármacos estão sendo produzidos no Brasil, em alinhamento com o que acontece no restante do mundo, tanto através de institutos ligados à CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) quanto na iniciativa privada”.
Marina Bicalho Silveira, farmacêutica do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), aponta que “novos radiofármacos estão sendo desenvolvidos no CDTN, como o PSMA1007 18 F, destinado ao diagnóstico de câncer de próstata. Apesar de já estar sendo comercializado pelo setor privado, é importante que seja produzido pelo governo para que possa estar disponível também na rede pública”.
Uso de radiofármaco e medicina nuclear no Brasil
Para Marina Bicalho Silveira, ainda há muito o que melhorar no país neste setor. “Ainda temos um longo caminho pela frente, uma vez que para incluir uma nova tecnologia no SUS é necessário tempo e muito estudo. Entretanto, ter o radiofármaco disponível é o primeiro passo”, afirma.
Segundo ela, a comercialização desse produto no Brasil teve início um ano após a aprovação dele nos Estados Unidos. “Isso é um grande avanço para a radiofarmácia e para a medicina nuclear brasileira. Precisamos agora nos dedicar a estudos clínicos e contribuir efetivamente para que o PET com fluorestradiol (18F) esteja disponível para um maior número de pessoas através do SUS”.
Por Newton Silva