Durante séculos, o Brasil teve como base a mão de obra escrava. O regime foi abolido em 1888, mas, na época, pouco foi feito para equiparar e incluir os negros libertos em sociedade. Inclusive, muitos foram libertados sem condição de trabalho e estudo. Apesar de a situação parecer distante do cenário atual, isso refletiu no desenvolvimento da sociedade contemporânea.
Como demonstra dados do estudo ‘Jovens Negros e o Mercado de Trabalho’, encomendado pelo Banco Mundial ao Núcleo de Pesquisa Afro do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), embora a população negra represente 56% dos brasileiros, essa parcela é a que menos tem acesso à educação, saúde e mercado de trabalho. Prova disso é o número de trabalhadores negros informais, que representam cerca de 61,3% dos brasileiros, segundo a PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).
Nova Lei contra injúria racial
Assim como no ambiente profissional e educacional, as relações sociais também foram impactadas pelo racismo. De acordo com dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, no primeiro semestre de 2022, 610 denúncias foram registradas no Brasil por racismo.
Visando combater crimes como este, no dia 12 de janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.532, que equipara as penas de injúria racial ao de racismo. Com isso, a pena para injúria racial aumenta de 1 a 3 anos para de 2 a 5 anos de reclusão. Assim, a nova legislação também se alinha ao entendimento do Supremo Tribunal Federal que, em outubro de 2022, tornou a injúria racial, bem como o racismo, um crime sem fiança e imprescritível.
Racismo em filmes
Confira, a seguir, 4 filmes que estimulam o debate sobre o racismo e retratam a desigualdade racial.
Medida Provisória (2020)
Dirigido por Lázaro Ramos e com nomes como Taís Araújo, Adriana Esteves e o britânico Alfred Enoch no elenco, o filme leva o espectador a refletir sobre o racismo na sociedade. Na narrativa, o governo brasileiro, na tentativa de reparar o passado escravocrata, decreta uma medida provisória que obriga os cidadãos negros a voltarem para a África em busca de suas origens.
A medida afeta a vida de personagens como o casal Capitú (Taís Araújo) e Antonio (Alfred Enoch), bem como a de seu primo, o jornalista André (Seu Jorge), que moram no mesmo apartamento. Em meio ao caos, os personagens promovem debates sobre questões sociais e raciais, além de compartilharem seus desejos para mudar o destino do país.
Onde assistir: Globoplay, YouTube, Google Play e Apple TV.
Todo os Mortos (2020)
Parte do gênero drama e ficção, a obra cinematográfica escrita por Marco Dutra é retratada na cidade de São Paulo, em meados de 1899, onze anos após a abolição da escravidão. Enquanto as mulheres da família Soares, antigas proprietárias de terra, tentam manter os seus privilégios (que foram arruinados pela Lei Áurea), Iná do Nascimento, ex-escrava, tenta reunir os seus familiares em um cenário desfavorável às pessoas negras. Assim, o filme expressa como cada família se adaptou para construir um futuro em meio ao início de uma nova sociedade.
Onde assistir: Telecine, YouTube, Google Play e Apple TV.
M8 – Quando a Morte Socorre a Vida (2019)
Premiado pelo Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, em 2021, como melhor roteiro, o filme dirigido por Jeferson De narra a história do personagem Maurício (Juan Paiva), um estudante da Universidade Federal de Medicina que em sua primeira aula de anatomia conhece M8, o cadáver que servirá de estudo para ele e os colegas. Durante o semestre, Maurício tenta descobrir a identidade do corpo, enquanto enfrenta os seus próprios medos e angústias. Contudo, tudo piora quando ele descobre que todos os corpos estudados no laboratório da instituição são de pessoas negras e que quem poderia estar ali era ele.
Onde assistir: Netflix e Apple TV.
Cores e Botas (2010)
Dirigido por Juliana Vicente, o filme conta a história da pequena Joana (Jhenyfer Lauren), uma garota que, assim como muitas dos anos 80, sonha em se tornar uma paquita da Xuxa. Sua família é bem-sucedida e apoia o seu sonho, no entanto, Joana é afrodescendente e nunca houve uma paquita negra. Por meio da narrativa, a obra apresenta ao público a importância da representatividade para crianças negras em um país com poucos personagens afrodescendentes.
Onde assistir: YouTube.