Por que desisti da transição capilar?
Cada vez mais se ouve falar sobre transição capilar, e tem aumentado o número de mulheres com o cabelo naturalmente ondulado, cacheado e crespo. Para alguns, pode parecer simples o processo de deixar os fios alisados e aderir aos naturais. Porém, só quem já passou pela transição sabe que o processo exige ir atrás de informações, testar produtos, fazer cronogramas, lidar com diferentes texturas, finalizar após a lavagem, entre tantos outros procedimentos.
Diferente para cada pessoa
Algumas pessoas passam por tudo isso com muita facilidade. Entretanto, não são todas que querem ou conseguem se adaptar às mudanças tanto no cabelo quanto no dia a dia. Érica Brasilino, assistente administrativa e autora do blog Uma Louca Pelo Mundo, optou por iniciar a transição capilar porque moraria no Togo, na África Ocidental, e lá não seria possível manter a escova progressiva.
Contudo, não conseguiu se habituar às transformações e rotina. “O processo [da transição capilar] foi doloroso. Eu não tinha paciência para pesquisar nada a respeito, pois não era algo que me interessava. Na verdade, desenvolvi um relacionamento de amor e ódio pelo meu cabelo encaracolado; eu optava por acessórios, como faixas, lenços e bandanas, para não ter de lidar com o meu cabelo”, afirma Érica.
Uma transformação interna
A transição é ainda um processo que ocorre de dentro para fora. É um período de autoconhecimento, aceitação e que acaba mexendo com o emocional e o psicológico de muitas mulheres. Há também a necessidade de enfrentar o preconceito e a pressão social do cabelo liso e alinhado ou com cachos definidos e sem frizz.
Para não precisar passar muito tempo na fase em que o cabelo fica com a textura lisa e cacheada, Érica Brasilino optou pelo big chop. Apesar disso, ainda não se identificava. “Me sentia péssima com o cabelo natural. Não me achei como mulher com cabelo curto. Tive vários problemas de autoestima, em que eu achava que o cabelo curto tirou minha feminilidade”, relata.
Interferência na imagem
Segundo Lígia Baruch Figueiredo, psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, o processo de transição capilar pode afetar diretamente a forma como uma mulher se enxerga, uma vez que o cabelo tem grande destaque na imagem feminina. “O cabelo é um aspecto importante na autoestima, pois funciona como uma moldura para o rosto. A beleza ainda é um aspecto muito cobrado socialmente das mulheres”, explica a profissional.
Não me reconheço
Por mais que muitas mulheres estejam aderindo à transição capilar e aceitando os fios da forma como são, nem todas irão se adaptar e se enxergar com o cabelo ondulado, cacheado ou crespo. Algumas mulheres, inclusive, acabam desistindo no meio ou no final do processo e voltam a alisá-lo.
“Percebi que eu me reconheço com o cabelo liso, que essa sou eu. Aliso meus cabelos desde os 18 anos, e essa sou eu quando me olho no espelho. Por mais que hoje haja um grande movimento de volta aos cachos, que eu acho fantástico e apoio, eu aprendi que este movimento não é para mim”, afirma Érica, que voltou a alisar o cabelo um ano após a transição e se sente muito melhor agora.
Seja feliz como quiser
Passar pela transição capilar e aderir ao cabelo natural é um ato de coragem e força, igualmente como querer mantê-lo alisado. No entanto, só você tem o direito de escolher o que é melhor para você, e não o que a sociedade encara como correto.
Para a psicóloga Lígia Figueiredo, nenhuma rigidez ou imposição é realmente benéfica para a saúde mental e outros aspectos da vida. “Não adianta se livrar de um ditame social para cair em outro, mesmo que lhe pareça uma escolha puramente pessoal, às vezes, há um modismo acoplado. Encontre o que lhe faz bem à cada fase da vida e se permita experimentar, mudar de opinião, de atitudes e de cabelos”, afirma.
Dessa forma, o importante é se sentir bem, seja com o cabelo alisado ou não. Além disso, cabelo não precisa ser algo permanente. Não gostou do resultado? Nada impede de alisar ou passar pela transição capilar novamente.