Saiba como utilizar antidepressivos de maneira segura
Os antidepressivos são medicamentos geralmente utilizados para tratar a depressão. No entanto, também podem ser usados em casos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno do estresse pós-traumático, bipolaridade e dependência química.
De acordo com a Dra. Lívia Castelo Branco, médica psiquiatra da Holiste Psiquiatria, essa classe de medicamentos, por vezes, também é aplicada em casos de impulsividade, irritabilidade, insônia, alterações de apetite, enxaqueca e até ejaculação precoce.
“Outras condições clínicas associadas a questões emocionais, como dor crônica e transtorno disfórico pré-menstrual (conhecido como TPM), também podem se beneficiar do uso deste tipo de medicação”, afirma.
Como agem os antidepressivos
Atualmente, existem diversas classes de medicamentos antidepressivos. Isso porque cada organismo é único e os efeitos dos remédios podem variar de pessoa para pessoa. Logo, é fundamental a orientação médica antes de iniciar um tratamento.
Mas, em geral, os antidepressivos atuam diretamente no sistema nervoso. “A maioria deles regula as substâncias conhecidas como neurotransmissores no cérebro, principalmente serotonina, noradrenalina e dopamina”, explica a Dra. Lívia Castelo Branco, que acrescenta: “Essas substâncias agem em sinergia com diversas outras, melhorando o ânimo, concentração, pensamentos distorcidos, qualidade do sono.”
Quem pode prescrever esse medicamento?
Qualquer especialidade médica pode prescrever ao paciente o uso do antidepressivo – desde que
diagnosticada a necessidade. Além do psiquiatra, o uso do medicamento pode ser indicado por cardiologista, geriatra, endocrinologista, neurologista, reumatologista, entre outros.
“Entretanto, existem quadros psiquiátricos que podem ser deflagrados a partir do uso indiscriminado de antidepressivos. Portanto, o acompanhamento com psiquiatra é importante, independentemente da existência de um transtorno mental”, ressalta a Dra. Lívia Castelo Branco.
Cuidados ao tomar o antidepressivo
Qualquer medicamento pode oferecer riscos à saúde, principalmente com o uso indiscriminado e sem
acompanhamento médico – e com os antidepressivos não é diferente. Por isso, alguns cuidados são
fundamentais. “O primeiro é não usar sem prescrição médica – há vários tipos de depressão, e cada um se beneficia de um mecanismo diferente de antidepressivo. É importante também questionar o médico sobre o melhor horário de tomar o medicamento, se associado com alimento ou não”, lista a Dra. Lívia Castelo Branco.
Ela também alerta que é de extrema importância comunicar ao médico caso surjam sintomas como ideação suicida ou mudanças de comportamento. “É relevante estar atento à quantidade de comprimidos restantes em casa, para se programar e solicitar novas receitas antes do término, pois alguns medicamentos provocam mal-estar se interrompidos abruptamente”, acrescenta.
Uso de antidepressivo e ingestão de bebida alcoólica
O consumo de bebida alcoólica não costuma anular o efeito do antidepressivo, conforme explica a Dra. Lívia Castelo Branco. Contudo, essa combinação pode oferecer outros tipos de prejuízos, como alterações comportamentais em pacientes vulneráveis, como os que estão deprimidos, impulsivos ou irritados. “Além disso, alguns antidepressivos têm sua ação sedativa potencializada pela bebida, o que pode aumentar o risco de depressão respiratória”, alerta a psiquiatra. Portanto, o consumo de bebidas alcoólicas deve sempre ser discutido com o médico, que fará uma avaliação individual dos riscos ao paciente.
Efeitos colaterais no início do tratamento
O uso de antidepressivos, de forma correta e consistente, contribui para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. No entanto, eles podem apresentar efeitos colaterais no início do tratamento. De acordo com a Dra. Gesika Amorim, mestre em Educação Médica e pós-graduada em Neurologia e Psiquiatria, os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, dependendo do medicamento utilizado.
“Os efeitos colaterais mais comuns nos primeiros 7-10 dias do tratamento são náuseas, tontura, cefaleia,
sensação de estar aéreo e redução do apetite, sintomas que costumam ser leves e transitórios”, acrescenta a Dra. Lívia Castelo Branco.
Ainda segundo ela, esses sintomas costumam ser suportáveis. Contudo, se eles persistirem após duas semanas, é importante retornar ao médico. Isso porque a troca do medicamento e/ou revisão do diagnóstico podem ser necessárias.
Outros sintomas ao longo do tratamento
Ao longo do tratamento, podem surgir outros tipos de sintomas, como sonolência, aumento de apetite,
tremores, inquietação e disfunção sexual. “O incômodo deve ser compartilhado com o médico assistente, a fim de pensar em estratégias para alívio, tais como redução de dose, troca de medicação ou introdução de ‘antídoto’ (substância que neutraliza aquele sintoma)”, acrescenta a Dra. Lívia Castelo Branco.
Antidepressivos causam dependência?
O uso de antidepressivos não causa dependência. Conforme explica a Dra. Lívia Castelo Branco, o que
pode ocorrer é o reaparecimento dos sintomas da doença quando o remédio é suspenso, fazendo com
que o paciente se sinta dependente.
Medicamentos que tem a meia-vida curta (que reduzem rapidamente a concentração no sangue), quando retirados ou ingeridos com atraso, podem causar tontura, cefaleia, náuseas, ansiedade e irritabilidade. Mas não há dependência. “Estes sintomas são rapidamente suprimidos com a tomada da dose do remédio, e podem ser evitados na época da suspensão por meio da redução gradual da dose”, ressalta a médica.
Duração do tratamento com o medicamento
De acordo com a Dra. Gesika Amorim, o tempo de tratamento com medicamento antidepressivo pode
depender do tipo de diagnóstico, da adesão do paciente ao remédio e, até mesmo, do quadro clínico. “O mínimo geralmente é de 6 meses, em média, são usados por pouco mais de um ano. Em alguns casos,
entretanto, é necessário o uso crônico do medicamento para prevenção de novos episódios, e a pessoa faz o tratamento contínuo assim como para outras doenças, como hipertensão e diabetes”, acrescenta a Dra. Lívia Castelo Branco.
Retirada do antidepressivo
Na maioria dos casos, a retirada do antidepressivo ocorre de maneira gradual, o que costuma ser chamado de período de “desmame”. De acordo com a Dra. Lívia Castelo Branco, isso é feito para evitar que o paciente tenha uma reação de retirada e para observar se os sintomas voltam com a diminuição da dose. “É importante atentar-se ao momento desta redução: o ideal é pelo menos 6 meses de controle total de sintomas”, afirma.
A duração do período de desmame depende de uma série de fatores, como tipo de medicamento, a dose utilizada, a gravidade do quadro e o tempo para atingir o controle dos sintomas. “Alguns remédios não apresentam risco de reação de retirada e, em quadros leves, podem ser suspensos abruptamente. Outros podem ser reduzidos e retirados em alguns dias; enquanto em outros se reduz a dose parcialmente e o paciente mantém acompanhamento regular”, lista a médica.
Atenção durante o desmame
Em hipótese alguma o paciente deve parar de consumir o antidepressivo de maneira abrupta e sem
a orientação do médico. “Lembre-se que o seu cérebro está equilibrado porque ele está acostumado a receber aquela substância. Então, se você tira ela subitamente, seu cérebro vai se desregular e os sintomas decorrentes dessa desregulação abrupta podem ser piores do que o início do sintoma”, alerta a Dra. Gesika Amorim.
Inclusive, a Dra. Lívia Castelo Branco ressalta que, mesmo após a suspensão dos remédios, a consulta com o médico é necessária, “pois podem surgir sintomas leves que não sejam percebidos pelos pacientes e que são sinais de uma recaída. Aguarde a alta do seu médico antes de interromper os atendimentos!”.
Perigos do uso indiscriminado de antidepressivos
O antidepressivo é importante e oferece benefícios à saúde se usado corretamente. No entanto, como
qualquer outro tipo de medicamento, quando consumido indiscriminadamente e sem auxílio médico,
também pode oferecer riscos.
“Os efeitos colaterais são mais comuns em pacientes que usam os remédios de forma irregular e sem indicação médica clara. Esquecimentos, alterações do sono e mudanças no peso corporal são riscos comuns”, alerta a Dra. Lívia Castelo Branco.
Além disso, conforme explica a médica, esse tipo de hábito também pode causar surtos psicóticos em pessoas que têm predisposição. “Quadros de agitação, agressividade, delírios e alucinações podem colocar o indivíduo e as demais pessoas em risco e, inclusive, demandar internação psiquiátrica”, acrescenta. Por isso, consulte sempre um médico e não se automedique.