Envelhecer é, de fato, o processo intrínseco de viver, uma jornada que transcende a mera passagem dos anos. Muitas vezes, quando se menciona o termo “envelhecer”, é inevitável que a mente associe automaticamente características como cabelos brancos, rugas, fadiga e a presença de doenças. No entanto, é crucial esclarecer os significados implícitos dos termos “envelhecer” e “velhice”, desvendando complexidades e nuances desse capítulo único na trajetória humana.
O envelhecimento é um processo natural, em que ocorrem mudanças biopsicossociais específicas, associadas à passagem do tempo, e que pode variar de pessoa para pessoa, determinado tanto por fatores internos quanto influenciado por estilo de vida, características do meio ambiente e condição de saúde.
O termo “velhice” é uma etapa da vida biológica com consequências psicológicas, considerando que certos comportamentos são apontados como características da velhice. Ela tem uma dimensão existencial, que modifica a relação da pessoa com o tempo, gerando mudanças em suas relações com o mundo e com a sua própria história.
Idade biológica difere da cronológica
O termo velhice foi implantado por uma questão meramente social e prática. Ou seja, em nossa sociedade brasileira, consideramos velhos os indivíduos cuja idade cronológica está acima de 60 anos. Isso os favorece quanto às questões trabalhistas, direito a atendimento prioritário e exclusivo em bancos, hospitais, coletivos etc.
Contudo, esta idade não constitui um divisor de águas entre a juventude e a velhice. Percebemos que os indivíduos não envelhecem de modo idêntico; assim, a idade biológica não pode estar relacionada com a idade cronológica.
A primeira segue um ciclo biológico envolvendo etapas de evolução do ser humano, como o nascimento, enquanto a segunda é uma abstração em que tentamos obter controle por meio de classificações simplistas utilizando escalas numéricas com a visão generalizada de um “corpo máquina”. De acordo com os estudos de Pedro Paulo Monteiro, o “corpo máquina” é aquele “construído” para executar uma tarefa específica: tudo está bem se “as peças” funcionam bem.
Velhice não é algo ruim
Tais questões ligadas à velhice não se restringem somente ao processo biológico, mas também psicossocial. É necessário “humanizar” esta etapa da vida, trazer “luz“ ao conhecimento de que ser “velho“ é ser alguém que possui dentro de si muita vida. Talvez seja pelo fato de “velho” ainda ser um termo com significado pejorativo que tantos se negam a fazer saudavelmente tal passagem.
Ainda assusta a alguns ler em um noticiário que “Fulano de tal aos 90 anos lança seu 20º livro na Academia Nacional de Letras”, por exemplo, ação que deveríamos tratar naturalmente se tão somente o nosso sistema não fosse tão excludente e mutilador no que tange as questões relacionadas à velhice.
Inúmeras possibilidades
Questionamos: quem determinou isso? Qual é o código onde essas afirmações estão descritas? E a agravante de tudo isso é que estas inverdades podem aniquilar as forças para produção de sentido para a vida. Talvez este seja o maior desafio da velhice, a criação e manutenção do sentido de ser.
Dentro deste tempo (que é particularmente pertencente a cada indivíduo) nos deparamos com a vida, que não se refere ao simples ato de existir, mas à vida que pulsa dentro de nós, que nos leva a cenários diferentes, a fazer escolhas, a sorrir, a chorar. Vida cheia de possibilidades.
Transcender significa superar as angústias existenciais, e o fato de poder fazer um retrospecto de anos vividos é um privilégio, e a chegada até o topo da subida íngreme nos consagra vitoriosos. Para aquele cuja finitude se apresenta cada vez mais próxima e a sensação de “dever cumprido” pode vir a lhe tirar a força para viver, a fé lhe é a garantia de cura e de força para a mobilidade existencial.
Envelhecer é um privilégio que muitos não têm
Para aqueles que compreendem que o envelhecimento, além de processo de vida, é também um privilégio, vivem os anos mais tardios como dádiva. Os idosos atualmente têm vida social, amorosa e profissional, muito diferente de como era há alguns anos.
Além disso, o hábito de praticarem exercícios físicos aumentou nessa faixa de idade, proporcionando uma vida mais saudável de uma maneira geral. Fica aqui a mensagem de que é preciso que, no novo ano e com a nova idade, haja essa conscientização, que os possibilita seguirem a vida com força, fé, alegria!
Por Erika Neves
Mestranda em Ciência da Educação e psicóloga clínica e educacional