A linha imaginária: da geografia à vida

A linha imaginária: da geografia à vida
As linhas podem ser imaginação ou ter um complexo contexto social (Imagem: Syda Productions | Shutterstock)

Eu estava de pé, imóvel, com os pés afastados em cerca de 35 centímetros. Bem no centro deles, passava uma linha que se estendia à minha frente e também para trás. Ela não tinha fim, e eu não conseguia vê-la. E eu nem queria ver a linha, pois minha atenção estava voltada a mim mesmo, ao meu emocional e ao meu corpo.

Eu procurava identificar alguma sensação ou mudança física por estar parado exatamente sobre a linha do Equador, com o pé direito no Hemisfério Norte e o esquerdo no Sul. Essa experiência é uma prática de todos os que visitam a cidade de Macapá. No monumento do Marco Zero há até uma placa estimulando o turista a “sentir a sensação de estar nos dois hemisférios ao mesmo tempo”.

Claro que não senti nada diferente, a não ser a alegria de estar conhecendo aquela cidade de gente simpática (a única banhada pelo Rio Amazonas), onde tinha ido palestrar para um público superinteressado.

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Na verdade, eu nada senti, mas algo pensei: a tal linha é imaginária, ela não existe como fenômeno gráfico, apenas geográfico. E também me lembrei de meu filho pequeno… Acontece que ele insiste em adormecer na cama dos pais, antes de ser levado para seu quarto. “Um dia ele não vai mais querer vir e nós sentiremos falta”, disse a mãe dele, e eu concordei, passando a mão naquela cabecinha adorável.

Uma noite, brincando com ele, eu estabeleci uma “linha imaginária” na cama, definindo o espaço de cada um. Quando ele, claro, a ultrapassou, antes que eu reclamasse, ele disse: “Pai, linhas imaginárias só existem em nossa cabeça, e servem só para a gente brincar”.

Diferentes formas de linhas

Sim, meu filho, linhas imaginárias só deveriam existir na cabeça das crianças e dos geógrafos. Quando você brinca de amarelinha, traça linhas com giz no chão para ficar mais fácil. Já muitas das linhas geopolíticas, que separam países e povos, foram desenhadas com sangue. E há aquelas traçadas pelas convenções sociais, e, pior, desenhadas pelo puro, e hediondo, preconceito.

Parece que traçar linhas é um dos esportes prediletos do ser humano. Mas, como tudo, há linhas e linhas. Há as linhas imaginárias como a da cama e a do próprio Equador, e há aquelas que viram muros, cercas de arame farpado, com guaritas e cancelas que definem quem pode, ou não, passar por elas. Quantas linhas determinam nossas vidas? Quais devem ser respeitadas e quantas removidas? Sinceramente, eu só sei mesmo onde fica a linha do Equador.

Por Eugenio Musak – revista Vida Simples

Manoella Bittencourt

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