A Associação Internacional de Dislexia (2003) diz que a “dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam de um Défice Fonológico inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais”.
Isso significa dizer que indivíduos disléxicos têm dificuldades em uma circuitaria neuronal, o que pode interferir e afetar a aquisição de habilidades e capacidades necessárias para que eles possam ler com fluência, escrever e soletrar corretamente.
Causas da dislexia
Como causas da dislexia podemos citar fatores genéticos e ambientais. Acredita-se que ela é um transtorno hereditário, pois 50% dos disléxicos têm outros casos na família. E, dentre os fatores ambientais, destaca-se a prematuridade, o baixo peso ao nascer, os problemas durante a gravidez, como exposição a infecções como rubéola, citomegalovírus, entre outras.
Sintomas da dislexia
Pessoas com dislexia podem apresentar sintomas que podem estar presentes desde o início da infância e persistirem na fase adulta. A seguir, alguns sinais que ajudam no diagnóstico do problema e podem servir de alerta para pais e professores.
- Na infância, é comum que os disléxicos tenham atrasos de fala e linguagem;
- Apresentam dificuldades para aprender a ler. Não são alfabetizados no tempo esperado para sua faixa etária;
- Pessoas com dislexia têm leitura com baixa fluência. Ela é silabada, difícil e muitas vezes incompreensível. Assim, não conseguem entender o que leem;
- Apresentam erros na leitura: trocas, omissões e inversões de palavras, o que dificulta o entendimento do texto lido;
- Têm desinteresse pela leitura;
- Os disléxicos apresentam dificuldades de rimar palavras, de recontar histórias com detalhes;
- Eles apresentam dificuldades com a produção de textos criativos;
- Apresentam trocas de letras na escrita;
- Têm dificuldades de soletração;
- Geralmente, podem apresentar dificuldades de decorar a tabuada e com cálculos matemáticos.
Tratamento para a dislexia
Dislexia não tem cura, mas tem remediação. É importante que o diagnóstico seja feito por uma equipe multidisciplinar que conta com médico, fonoaudiólogo, psicopedagogo, neuropsicólogo e psicólogo. Esta investigação precisa ser efetiva e o mais precocemente possível para que as adaptações escolares e o processo interventivo sejam iniciados.
Com isso, é possível minimizar defasagens e problemas emocionais que a dificuldade de ler e escrever causa nos disléxicos, além de diminuir sua resistência de frequentar a escola e de ler.
Encontrando suporte e encorajamento
A dislexia é uma condição que pode ter um impacto significativo na vida de um indivíduo, afetando sua autoestima, desempenho acadêmico e relacionamentos interpessoais. Refletir sobre as causas e as consequências, bem como ilustrar esses pontos, colabora para que o disléxico tenha uma conduta mais assertiva diante de suas dificuldades e ajuda a ressignificar socialmente algumas falas cercadas de preconceito.
Existem milhões de pessoas em todo o mundo que também enfrentam esse transtorno de aprendizagem. Conectar-se com grupos de apoio, comunidades on-line e outras pessoas com dislexia pode ser uma fonte de suporte e encorajamento.
A dislexia é apenas uma dificuldade específica na leitura, escrita e soletração. Não é um reflexo de inteligência ou capacidade de aprender. Muitas pessoas com dislexia são altamente inteligentes e talentosas em outras áreas, como arte, música, esportes, ciências, entre outros.
Aprendendo de maneira diferente
A dislexia está frequentemente associada a habilidades únicas, como pensamento criativo, habilidades visuais e espaciais, pensamento crítico e resolução de problemas. Existem estratégias e recursos disponíveis que podem ajudar a superar as dificuldades causadas pela dislexia.
Isso inclui o uso de tecnologias assistivas, como softwares de leitura em voz alta, aplicativos de ditado por voz, organizadores visuais, entre outros. Implementar essas estratégias (e aprendê-las) pode facilitar a leitura, a escrita e a organização.
A dislexia pode exigir que o disléxico aprenda de maneira diferente dos outros. Isso não é um problema, mas uma oportunidade para descobrir métodos de aprendizagem que funcionem melhor para eles. Experimentar diferentes abordagens, como aprender por meio de recursos visuais, auditivos ou táteis, até encontrar o que funciona melhor para o disléxico é um fator que deve ser levado em consideração pelos professores em contexto escolar.
Estratégias para ajudar no desempenho
A International Dyslexia Association (2013) cita como estratégias para ajudar no engajamento, aprendizado e na inclusão do aluno disléxico os seguintes aspectos:
- Dar tempo extra para completar as tarefas;
- Oferecer ao aluno ajuda para fazer suas anotações;
- Modificar trabalhos e pesquisas, segundo a necessidade do aluno;
- Esclarecer ou simplificar instruções escritas, sublinhando ou destacando os aspectos importantes para o aluno;
- Reduzir a quantidade de texto a ser lido;
- Bloquear estímulos externos, caso o aluno se distraia com facilidade;
- Proporcionar atividades práticas adicionais, uma vez que os materiais não oferecem em número suficiente para crianças com dificuldade de aprendizagem;
- Fornecer glossários dos conteúdos e guia para auxiliar o aluno a compreender a leitura;
- Repetir orientações e recomendações, pois alguns alunos possuem dificuldade em seguir instruções. Sendo assim, pode-se pedir que o mesmo repita com suas próprias palavras;
- Variar os modos de avaliação, ou seja, apresentações orais, participação em discussões, avaliações escritas e provas com múltipla escolha;
- Estimular o uso de agendas, calendários e organizadores;
- Graduar os conteúdos a serem abordados, em um nível crescente de dificuldade.
Ademais, as pessoas com dislexia precisam saber que não estão sozinhas, que a dislexia não define sua inteligência, que possuem habilidades únicas, que existem estratégias e recursos disponíveis, bem como que aprender de forma diferente não é um problema.
A autoestima e a confiança são, nesse cenário, fundamentais. Com conhecimento, suporte e uma mentalidade positiva, as pessoas com dislexia podem superar desafios e alcançar seu pleno potencial.
Por Luciana Cordeiro Felipetto
Fonoaudióloga clínica e educacional, mestre em Ciências da Educação, especialista em Linguagem e palestrante nacional e internacional.