10 mitos e verdades sobre o autismo
O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), está relacionado ao desenvolvimento neurológico. Pode ser caracterizado pela dificuldade de interação social e em se comunicar, por interesses ou movimentos repetitivos e pelo desenvolvimento intelectual irregular. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2-4 milhões de pessoas convivem com o TEA no Brasil. Porém, esse número não é exato, uma vez que muitos não sabem que têm essa condição.
Segundo a neurocientista Dra. Fabiele Russo, a falta de informação sobre o transtorno atrapalha a identificação, pois é essencial que a descoberta ocorra ainda na infância. “Quanto mais rápido acontece o diagnóstico, mais cedo é possível iniciar as intervenções e estímulos precoces”, afirma a especialista.
Nas redes sociais, por exemplo, circulam diversas informações sobre o TEA. No entanto, nem sempre elas são verdadeiras, o que contribui para a desinformação sobre a condição. A seguir, a Dra. Fabiele Russo esclarece os principais mitos e verdades envolvendo esse transtorno.
1. O autismo não é uma doença?
Verdade. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o autismo não é uma doença e é exatamente por isso que também não tem cura. “O TEA é uma condição relacionada ao desenvolvimento do cérebro que afeta a forma como uma pessoa percebe o mundo e se socializa”, explica a médica neurologista.
Dessa forma, essas pessoas costumam ter dificuldades de interação social e comunicação. Porém, muitas pessoas com autismo conseguem realizar todas as suas atividades diárias, enquanto outros podem necessitar de ajuda.
2. Todos os autistas são agressivos?
Mito. A agressividade pode sim ser uma característica de uma pessoa autista, mas não é certo generalizar esse e outros comportamentos dos autistas. “Algumas pessoas com TEA podem realmente ser menos tolerantes e ter grandes frustrações, mas isso pode ocorrer quando existe uma dificuldade de se expressar, no entanto, assim como outras características do autista, não é uma regra”, comenta a especialista.
3. Vacinas causam autismo?
Mito. De acordo com a OMS não existe nenhuma evidência que comprove que vacinas causem TEA. “As causas do autismo estão associadas a genética, na maioria dos casos, e fatores ambientais, mas nada relacionado a nenhuma vacina”, afirma a neurocientista.
4. Não existem exames para diagnosticar o TEA?
Verdade. A Dra. Fabiele Russo explica que o diagnóstico é realizado de forma clínica, baseado em evidências científicas, de acordo com os critérios estabelecidos pelo DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) e pelo CID-11 (Classificação Internacional de Doenças da OMS). “Isso significa que não existe um exame específico que identifique o autismo. O diagnóstico ocorre por meio de avaliações do comportamento”, explica.
5. O tratamento do autismo é multidisciplinar?
Verdade. Conforme explica a Dra. Fabiele Russo, para realizar o tratamento o paciente pode ser acompanhado por mais de um profissional. “Uma pessoa com autismo tem acompanhamento multidisciplinar, o que significa que realiza o tratamento com diversos especialistas: médico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, fisioterapeuta, entre outros. Tudo vai depender das necessidades da criança”, explica a especialista.
6. Todos os autistas se comportam da mesma forma?
Mito. Um dos principais termos a se compreender é que não podemos generalizar como as pessoas com TEA se comportam, ou seja, algumas podem ser mais agressivas, outras se socializam menos. O mesmo ocorre com as dificuldades que cada um apresenta. “Por exemplo, alguns têm dificuldades para escrever, outros para matemática. Mais uma vez digo que não podemos generalizar”, explica a Dra. Fabiele Russo.
7. Autistas não podem frequentar a escola?
Mito. Diversas pessoas acreditam que autistas não podem frequentar a escola ou que só podem frequentar instituições específicas para pessoas com autismo, mas isso não é verdade. As leis garantem ao autista o direito à educação e ao ensino profissionalizante. Além disso, garante que em casos comprovados de necessidade, o aluno autista que esteja matriculado na escola pública ou particular, tenha direito a um acompanhante especializado dentro da sala de aula.
Esse profissional, segundo o Decreto 8.368/14, deve possuir capacitação para o acompanhamento das crianças dentro do ambiente escolar. Além disso, os custos do acompanhante são de responsabilidade exclusiva da escola, ou seja, a família está isenta.
8. Toda pessoa com TEA tem inteligência acima da média?
Mito. De fato, algumas pessoas com autismo possuem inteligência acima da média, assim como também algumas pessoas neurotípicas tem inteligência acima da média. Isso não é critério diagnóstico de TEA, aliás, cerca de 40% dos autistas apresentam algum grau de deficiência intelectual.
9. O diagnóstico precoce ajuda no tratamento?
Verdade. Um dos grandes diferenciais da qualidade de vida das pessoas que possuem autismo é identificar o transtorno logo no início. Muitos acreditam que o diagnóstico só pode ser feito a partir dos três anos, quando, na realidade, logo nos primeiros meses de vida já é possível identificar sinais e já iniciar as intervenções precoces.
“Há casos de autismo que podem ser identificados por volta de 18 meses de vida e até mesmo antes, o que é muito importante, pois quanto mais rápido acontece o diagnóstico, mais cedo é possível cuidar, com intervenções e estímulos precoces”, explica a Dra. Fabiele Russo. A médica ainda explica que não é necessário esperar o diagnóstico para o TEA para iniciar o tratamento. “Um ponto muito importante que sempre falo é que não devemos esperar o diagnóstico para iniciar as intervenções. Se a criança apresentar qualquer atraso no desenvolvimento já devemos intervir”, completa.
10. Traumas psicológicos causam autismo?
Mito. Como já se sabe, as causas do autismo não são totalmente conhecidas, mas se sabe que o transtorno está ligado à genética e fatores ambientais estabelecidos antes do nascimento. “Ou seja, traumas psicológicos não estão ligados ao desenvolvimento do TEA, mas, sim, podem prejudicar ainda mais o desenvolvimento das crianças com TEA”, finaliza a Dra. Fabiele Russo.
Por Beatriz Bradley